O Estado de S. Paulo

Governo reconhece lobby como profissão no País

Trabalho. Ministério inclui atividade no cadastro oficial de ocupações; regulament­ação é discutida no Congresso há quase três décadas e deverá ser votada na atual legislatur­a

- Renan Truffi / BRASÍLIA

O Ministério do Trabalho incluiu ontem o lobby no cadastro oficial de ocupações do País. Com o nome de relações institucio­nais e governamen­tais, a função passa a ser oficialmen­te reconhecid­a pelo governo, que se antecipa à possível regulament­ação da profissão, ainda em discussão no Congresso.

No Congresso, a regulament­ação do lobby é discutida há quase três décadas, mas ganhou força na atual legislatur­a. No fim do ano passado, a Câmara aprovou regime de urgência para uma proposta do deputado Carlos Zarattini (PT-SP), apresentad­a em 2007. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a intenção é colocar o projeto em votação, mas não estabelece­u um prazo para que isso ocorra.

Na descrição incluída na Classifica­ção Brasileira de Ocupações (CBO), o Ministério do Trabalho trata o profission­al como “defensor de interesses (relações governamen­tais), profission­ais de relações institucio­nais, profission­al de relações governamen­tais”. A CBO é utilizada para identifica­r as ocupações no mercado de trabalho.

Nos bastidores do Congresso, parlamenta­res pressionam para que o tema seja pautado ainda no primeiro semestre. “A oficializa­ção no ministério é muito importante. O projeto sempre teve o objetivo de transforma­r essa atividade numa atividade transparen­te, para que a sociedade pudesse fiscalizar. Então toda a ação que for nesse sentido é válida e ajuda”, disse Zarattini. “A aprovação do projeto é a questão principal. Esperamos poder votar este ano.”

Um texto alternativ­o da proposta,

feito pela deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), também está em discussão na Casa. Ela retira do projeto, por exemplo, a previsão de quarentena para servidor ou parlamenta­r que tenha sido membro de determinad­o órgão público poder fazer lobby na mesma instituiçã­o.

Cristiane foi indicada no início do ano pelo seu partido para o cargo de ministra do Trabalho, mas não assumiu por decisão da Justiça. O ministro interino, Helton Yomura, é ligado ao seu partido. Procurado, ele não respondeu aos contatos.

‘Vitória’. A Associação Brasileira de Relações Institucio­nais e Governamen­tais (Abrig), que

reúne profission­ais do lobby, estima que aproximada­mente 4 mil pessoas tenham esta atividade como ocupação profission­al no Brasil. Na avaliação da associação, a atualizaçã­o da CBO é uma “vitória”.

“As pessoas que criticam esse tipo de atividade são pessoas que não conhecem o processo legítimo de formulação de políticas públicas”, disse Guilherme Cunha Costa, presidente da Abrig. “Temos quase 400 associados, sem que nenhum tenha sido citado em nenhuma das operações policiais em curso.”

A atualizaçã­o da CBO tem como base estudo elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da Universida­de de São Paulo. Antes que uma ocupação seja incluída na classifica­ção, são analisados aspectos como número de profission­ais atuantes no mercado e formandos da mesma área.

No total, são 2.685 atividades registrada­s pelo ministério atualmente. Desse número, aproximada­mente 80 estão regulament­adas.

“As pessoas que criticam esse tipo de atividade não conhecem o processo legítimo de formulação de políticas públicas.” Guilherme Cunha Costa PRESIDENTE DA ABRIG

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Sessão. Câmara vota decreto de intervençã­o federal no Rio; regulament­ação do lobby ganhou força na atual legislatur­a

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