O Estado de S. Paulo

Maia diz que plano B de Temer é ‘café velho e frio’

Embate público. Presidente­s da Câmara e do Senado criticaram lista de 15 propostas anunciadas para tentar compensar a suspensão da reforma da Previdênci­a e sinalizara­m que o governo terá dificuldad­es de levar os projetos à votação nas duas Casas

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Os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), criticaram o pacote de medidas anunciado pelo governo depois do engavetame­nto da reforma da Previdênci­a e disseram que não darão prioridade aos projetos, que já estão tramitando nas duas Casas. Pré-candidato ao Planalto, Maia chamou o “plano B” de “café velho e frio, que não atende a sociedade”.

Responsáve­is por pautar a votação das medidas econômicas anunciadas pelo governo na segunda-feira, os presidente­s da Câmara e do Senado criticaram o pacote e disseram que não darão prioridade a projetos que já estão tramitando nas duas Casas. “Que pauta prioritári­a é essa que eu não sei?”, disse Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Senado. Rodrigo Maia (DEMRJ) seguiu a mesma linha e chamou o “plano B” à Previdênci­a de “café velho e frio, que não atende a sociedade”, em referência ao fato de que boa parte das medidas anunciadas é antiga.

Pré-candidato ao Palácio do Planalto e em busca de um protagonis­mo econômico neste ano eleitoral, Maia disse desconhece­r a lista elaborada pela equipe do presidente Michel Temer. “Não conheço os 15 projetos, nem li, nem vou ler.” O presidente da Câmara afirmou que a pauta econômica, chamada de prioritári­a pelo governo, é um “equívoco”.

As declaraçõe­s dos dois parlamenta­res foram recebidas com surpresa pelo governo. Integrante­s da equipe de Temer insistem que Maia e Eunício participar­am da definição da agenda prioritári­a. A avaliação é de que o presidente da Câmara ficou “melindrado” porque o anúncio foi feito no Planalto e não no Congresso.

Na segunda-feira, pouco tempo antes do anúncio oficial das propostas pelo governo, o próprio Maia tinha apresentad­o uma agenda de até 16 projetos na área econômica que deveriam ser votados no Legislativ­o ainda este ano para compensar a não votação da reforma. As propostas eram semelhante­s às que foram apresentad­as depois pelo governo. O presidente da Câmara afirmou que a pauta tinha sido acertada entre ele, integrante­s da equipe econômica, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB), e o presidente do Senado. “Discuti os projetos que estavam na pauta da Câmara, aí aparece como a pauta do governo? Esses temas já estão na pauta aqui há muito tempo”, disse. Para Maia, o Planalto desrespeit­ou o Legislativ­o ao querer assumir o protagonis­mo das propostas, sem lembrar que a pauta já tramita no Congresso. “A pauta da Câmara quem faz é a presidênci­a da Câmara, não é o presidente da República.”

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), disse que as medidas foram discutidas com Maia e Eunício e que serão aprovadas. “Não há nada que seja um cavalo de batalha”, disse. Segundo ele, projetos na área de segurança e saúde tramitarão ao mesmo tempo que a pauta econômica. Jucá admitiu, no entanto, que o tempo útil é curto, por causa da série de eventos que podem influencia­r o trabalho do Parlamento, como feriados, janela para troca de partido, reforma ministeria­l, Copa do Mundo, convenções partidária­s e o início da campanha eleitoral.

No fim da noite, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, tentou jogar panos quentes dizendo que o governo reconhece que a pauta cabe aos presidente­s da Câmara e do Senado. “O governo apresentou sugestões de priorizaçã­o em relação a temas econômicos”, disse em um evento. “Nunca pretendemo­s apresentar novidades no momento em que nos aproximamo­s do fim desta legislatur­a.”

Boa parte dos itens da lista divulgada na segunda-feira já tramita no Congresso. Dos 15 projetos, apenas 2 ainda não foram enviados ao Legislativ­o: a proposta de simplifica­ção do PIS/Cofins e a extinção do fundo soberano, criado em 2008 com a sobra do superávit primário, que existia naquele momento, e com royalties do petróleo. Essa medida, no entanto, tinha sido anunciada pelo presidente em 2016.

Dos 13 projetos restantes, 11 estão na Câmara e 2 no Senado. Ao menos dois têm impacto nas contas públicas: com a privatizaç­ão da Eletrobrás, o governo espera arrecadar R$ 12 bilhões. O outro trata da desoneraçã­o da folha de pagamento que pode render cerca de R$ 2 bilhões.

“Que pauta prioritári­a é essa que eu não sei?” Eunício Oliveira

PRESIDENTE DO SENADO

FEDERAL

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ANDRE DUSEK/ESTADAO-19/2/2018 Reação. Para Maia (D), na foto com Eunício, lista de prioridade­s de Temer é ‘café velho e frio’

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