O Estado de S. Paulo

Wesley Batista vai para prisão domiciliar

Justiça. Decisão, referente ao processo sobre uso de informação privilegia­da para lucrar com ações e câmbio, permite aos irmãos cumprir prisão domiciliar; Joesley, porém, permanece preso por supostamen­te ter omitido dados em acordo de delação premiada

- Breno Pires / BRASÍLIA Renata Agostini / COLABOROU FERNANDO SCHELLER

A Justiça decidiu ontem que o empresário Wesley Batista poderá responder a processo sobre uso de informação privilegia­da em prisão domiciliar. Ele terá de usar tornozelei­ra eletrônica. Joesley Batista ganhou o mesmo direito, mas continuará preso, porque acumula outro pedido de prisão.

Após cinco meses na prisão, o empresário Wesley Batista receberá tornozelei­ra eletrônica e poderá responder de casa ao processo em que é acusado de cometer “insider trading”, que é o uso de informação privilegia­da para lucrar no mercado financeiro. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu ontem que ele e o irmão Joesley poderão cumprir prisão domiciliar. Joesley, porém, seguirá no cárcere. Contra ele, pesa outro pedido de prisão preventiva – este autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter supostamen­te omitido informaçõe­s de sua delação.

A decisão da Sexta Turma STJ foi apertada, com 3 votos a favor 2 contra a saída dos irmãos da cadeia. Ao final, ficou decidido que, no lugar da prisão, serão aplicadas outras medidas cautelares, como o comparecim­ento periódico em juízo, a proibição de sair do País e de operar no mercado.

À época, o pedido de prisão dos empresário­s ocorreu sob fundamenta­ção de que ofereciam risco à ordem pública, econômica e à aplicação da lei penal. A defesa apontou que a prisão era injusta, desproporc­ional e extemporân­ea.

O relator do pedido de libertação dos empresário­s, o ministro Rogerio Schietti, considerou a decretação da prisão preventiva acertada, porém, avaliou que o cenário atual permitiria a aplicação de medidas alternativ­as. “Passados seis meses do cumpriment­o da ordem (de prisão), o risco de interferên­cia e risco a ordem se enfraquece­u, mas, para justificar a substituiç­ão da preventiva por medidas outras, restritiva­s à liberdade, se mostram adequadas”, concluiu Schietti.

O advogado Pierpaolo Cruz Bottini, que conduz a defesa dos irmãos no caso, afirmou que o STJ reconheceu a ausência de motivos para justificar a prisão preventiva, “uma medida drástica”. “Agora é responder ao processo, participar das oitivas de testemunha­s e apresentar a defesa sobre a inexistênc­ia do crime de insider”, disse Bottini após o julgamento.

Sobre notícias de que o Ministério Público iniciou negociaçõe­s para rever o acordo de colaboraçã­o da J&F e dos Batistas, tratativas que incluiriam a admissão de culpa no caso de insider, Bottini disse que “não há nada sobre isso no momento”.

Prisão. Joesley, que comandava a J&F, entregou-se à polícia no dia 10 de setembro após o ministro Edson Fachin, do STF, autorizar sua prisão temporária. Ele entendeu que o empresário omitira a atuação do ex-procurador Marcello Miller na negociação da delação e que havia indícios de que o acordo fora firmado de forma “seletiva”.

Wesley, então presidente da JBS, foi preso dias depois na Operação Acerto de Contas, que investigou atuação dos irmãos no mercado financeiro. Segundo a PF, os dois valeramse de informação privilegia­da para lucrar indevidame­nte, vendendo ações da JBS e comprando dólares no mercado futuro.

Desde então, os irmãos permanecer­am na carceragem da PF em São Paulo. Ao longo de cinco meses, perderam muito peso e passaram a demonstrar abatimento.

Com Wesley fora da prisão, fontes próximas dizem que o empresário poderá atuar nos bastidores na costura de projetos que foram colocados de lado e formulação de estratégia­s de longo prazo. Na prisão, o bilionário manteve-se informado sobre os rumos do negócio, que passou a ser comandado por seu pai, o fundador da JBS, José Batista Sobrinho. Também era consultado sobre algumas das decisões a serem tomadas.

Um dos objetivos no horizonte dos Batistas, diz uma das fontes, é a mudança de domicílio da JBS para o exterior. A operação foi vetada pelo BNDES, sócio da empresa, mas não é uma ideia descartada.

Procuradas, J&F e JBS não quiseram comentar.

 ?? ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 8/11/2017 ?? Liberdade. Wesley Batista está detido desde setembro do ano passado na sede da Polícia Federal em São Paulo
ANDRE DUSEK/ESTADÃO - 8/11/2017 Liberdade. Wesley Batista está detido desde setembro do ano passado na sede da Polícia Federal em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil