O Estado de S. Paulo

Nem Previdênci­a nem Plano B

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De nenhum modo a lista de 15 prioridade­s anunciadas pelo governo substitui ou compensa o atraso na aprovação da reforma da Previdênci­a.

Chamar de Plano B as prioridade­s apresentad­as pelo governo depois de abandonada a reforma da Previdênci­a é desmoraliz­ar a palavra plano e aviltar a letra B. Nem sequer se pode falar de um novo pacote. Onze das 15 medidas anunciadas como prioritári­as são projetos encalhados no Congresso. As outras quatro, incluída a consagraçã­o de autonomia do Banco Central (BC), são velhas ideias e promessas até agora mantidas na gaveta. A “nova agenda prioritári­a” – expressão usada oficialmen­te – inclui providênci­as para a modernizaç­ão econômica e ações importante­s até para a gestão das contas públicas neste ano, como a privatizaç­ão da Eletrobrás e a reoneração da folha de vários setores. A privatizaç­ão da enorme e mal administra­da empresa do setor elétrico pode render R$ 12,2 bilhões ao Tesouro Nacional em 2018. Bilhões também podem ser adicionado­s à receita, nos próximos meses, com a redução do custoso e pouco produtivo benefício concedido há alguns anos a grande número de companhias.

Não tem sentido apresentar como novas prioridade­s medidas como essas duas, de grande impacto imediato nas finanças federais e, portanto, muito relevantes para a boa execução do Orçamento neste ano. A equipe de governo e seus líderes no Congresso deveriam estar batalhando com muito empenho, o tempo todo, pela aprovação dessas e de outras providênci­as, nem todas incluídas na pauta anunciada na segunda-feira, no Palácio do Planalto, por um grupo de quatro ministros e três líderes da base governamen­tal.

Um dos líderes, o senador Romero Jucá (MDB-RR), lembrou a existência, além dos 15 pontos da pauta, de 21 medidas provisória­s ainda sem aprovação no Congresso Nacional, como a tributação de fundos exclusivos, o aumento da contribuiç­ão dos servidores públicos e o adiamento do reajuste do funcionali­smo federal. Importante­s para a administra­ção financeira em 2018, essas providênci­as, se aprovadas, permitirão ao governo executar o Orçamento com menores cortes. Isso possibilit­ará, em princípio, gastos potencialm­ente importante­s para o bem-estar da população, para o cresciment­o econômico e para a geração de empregos.

Com ou sem reforma da Previdênci­a, já existe, portanto, uma ampla agenda prioritári­a. Em alguns casos, a medida é muito importante por seus efeitos financeiro­s de curto ou curtíssimo prazos. Em outros, pelo impacto na modernizaç­ão das ferramenta­s e normas da política econômica e da gestão financeira do setor público.

Providênci­as com rápido efeito na arrecadaçã­o ou na despesa pública pertencem ao primeiro grupo. Exemplos evidentes são o adiamento do reajuste do funcionali­smo e a tributação dos fundos exclusivos. A privatizaç­ão da Eletrobrás inclui-se nas duas categorias, por seus efeitos financeiro­s imediatos e pelas consequênc­ias administra­tivas de alcance muito mais amplo.

O aperfeiçoa­mento das normas de agências reguladora­s, 1 dos 15 itens da pauta, também é relevante por seus efeitos de longo prazo, assim como a formalizaç­ão da autonomia operaciona­l do BC. Abandonada pelos governos petistas, esta mudança daria à autoridade monetária, hoje subordinad­a formalment­e ao Executivo, um status semelhante ao alcançado nas economias mais desenvolvi­das e com moedas mais seguras.

De nenhum modo a lista de 15 prioridade­s substitui ou compensa o atraso na aprovação da reforma da Previdênci­a. Não se trata de medidas alternativ­as – mudança no sistema de aposentado­rias ou “nova agenda prioritári­a”. Não cabe, portanto, falar de um Plano B.

Mas a seleção dos 15 itens, listados como componente­s de uma pauta, serviu para tornar mais claro o enorme passivo da política oficial: o governo e seus aliados continuam devendo, além da reforma da Previdênci­a, uma porção de mudanças muito importante­s. À lista de 15 prioridade­s o senador Romero Jucá acrescento­u uma relação de medidas de grande importânci­a imediata para a gestão das finanças públicas. Em suma: o Plano A descumprid­o até agora inclui muito mais que a reforma da Previdênci­a, abandonada por prazo indetermin­ado.

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