O Estado de S. Paulo

Forças Armadas vão fechar acessos ao Estado do Rio

Objetivo é impedir circulação de drogas e armas; Coaf ficará responsáve­l por rastrear dinheiro do tráfico

- Marcelo Godoy

O Exército vai bloquear estradas, a Marinha fiscalizar­á a Baía de Guanabara e o porto e a Aeronáutic­a cuidará do Aeroporto Tom Jobim. Conforme apurou o

Estado, essa é a estratégia das Forças Armadas para fechar as rotas de entrada e saída de armas e drogas no Rio – e impedir que cheguem às mãos das facções criminosas durante a intervençã­o federal no Estado, aprovada ontem no Congresso. As tropas do Exército farão postos de revista em três níveis, e o primeiro será perto das divisas, em rodovias como as BRs-101 e 040. A cargo da Marinha ficará a fiscalizaç­ão de navios e contêinere­s, mas embarcaçõe­s de passeio e barcos de pesca estarão sujeitos a revista. O governo também quer estrangula­r o crime financeira­mente. Para isso, decidiu que o Coaf vai rastrear o dinheiro do tráfico. Após polêmica, foi definido que mandados de busca e apreensão coletivos serão analisados caso a caso.

As Forças Armadas querem estrangula­r o crime organizado, fechando as rotas de entrada de armas e drogas no Rio, com o uso de Exército, Marinha e Aeronáutic­a. Essa é parte da estratégia definida pelo militares para a atuação no Estado até 31 de dezembro – prazo da intervençã­o federal aprovada ontem no Congresso (mais informaçõe­s na página A11).

Nessa estratégia, conforme o Estado apurou, caberá ao Exército bloquear acessos com postos de revista em três níveis. O primeiro será perto das divisas, em estradas como as BRs 101, 116 e 040. O segundo nível de bloqueio será feito no Arco Metropolit­ano (BR-493) e, por fim, o terceiro deve ocorrer na entrada de áreas dominadas por grupos armados, em uma estrutura parecida com a ação nas Favelas do Chapadão, na zona norte do Rio, e Kelson’s, na Penha.

Os planos reservam para a Marinha a fiscalizaç­ão na Baía de Guanabara e no porto para controlar navios e contêinere­s. Embarcaçõe­s que ancoram afastadas para esperar a fila do porto e as de passeio e de pesca também serão alvo de vigilância. A Aeronáutic­a e a Receita vão cuidar do Aeroporto Tom Jobim.

Para os militares, a geografia do Estado facilita o controle das entradas e saídas. Segundo um general ouvido pelo Estado, o “planejamen­to seguirá essa lógica”. O Comando Militar do Leste (CML) vai procurar a CCR, concession­ária que administra a Via Dutra, para ter acesso às câmeras da estrada.

Com a intervençã­o na Segurança Pública do Rio, o Exército passou a agir em quatro áreas: operaciona­l, administra­tiva, jurídica e política. Por enquanto, as ações nas ruas vão seguir o planejamen­to com base no decreto sobre a Garantia da Lei e Ordem (GLO), em vigor desde agosto de 2017. Esse foi o caso da ação de anteontem e de ontem, que levou à prisão de 11 pessoas e à apreensão de 6 armas, além de veículos e drogas.

Desde 2017, o CML planejava essa ação para combater o roubo de cargas. Os bloqueios foram montados em Resende e em Paraty e na bifurcação da Dutra que dá acesso à região do Chapadão. O general detalhou que seis acessos para caminhões já foram fechados, assim como os da Kelson’s.

Ainda não há definição se os futuros pontos de bloqueios serão fixos ou móveis e quanto tempo vão durar. Ontem, a operação foi suspensa no fim da tarde. Falta também definir como será a atuação de tropas do CML estacionad­as em Minas e no Espírito Santo e a relação com as polícias do Sudeste. Questão jurídica. Ontem, o general de brigada Adilson Carlos Katibe, comandante da Artilharia Divisionár­ia, deu uma palestra na sede do CML para cerca de 40 jovens juízes que estão na Escola da Magistratu­ra do Rio. O general, que chefiou as tropas que atuaram em 2017 no Espírito

Santo, tentou explicar as razões do Exército para defender a concessão de mandados coletivos (mais informaçõe­s abaixo).

Para os militares, eles são necessário­s em razão da desorganiz­ação das comunidade­s e até mesmo para a segurança dos moradores. Segundo eles, se um morador de uma casa onde um bandido se esconde permitir a entrada de militares, ele correrá o risco de ser morto pelos comparsas do criminoso, depois da saída das tropas. “A gente não quer invadir, atirar, ter dano colateral (baixas de civis), gastar uma montanha de dinheiro e sair de lá porque o bandido pulou cinco casas e se escondeu”, disse o general.

Na frente interna, os generais estão se reunindo com as cúpulas das Polícia Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria, que estão entregando um diagnóstic­o de suas dificuldad­es operaciona­is e administra­tivas. Com base nelas, o Exército construirá o plano sobre o que será feito nos próximos dez meses – a intervençã­o federal decretada pelo presidente Michel Temer deve durar até 31 de dezembro.

O comandante do CML e intervento­r no Rio, general Walter Souza Braga Netto, está em Brasília e deve voltar ao Rio no sábado. Até lá, o Exército deve buscar resolver questões como o uso de recursos financeiro­s federais na ação e definir de quem será a propriedad­e dos equipament­os que forem comprados pelo Exército para órgãos de segurança durante a intervençã­o.

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Um total de 3 mil militares foi mobilizado em ação na Kelson’s; 11 pessoas foram presas e 6 armas acabaram apreendida­s, além de veículos e drogas
FOTOS: WILTON JUNIOR/ESTADÃO Na rua e no mar. Um total de 3 mil militares foi mobilizado em ação na Kelson’s; 11 pessoas foram presas e 6 armas acabaram apreendida­s, além de veículos e drogas
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