O Estado de S. Paulo

Projeto prevê duplo mandato para o BC

Inspirado no modelo do Fed, proposta é que instituiçã­o tenha meta para a inflação, como é hoje, e também para o cresciment­o econômico

- Adriana Fernandes Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

A proposta do governo para autonomia do Banco Central vai prever duplo mandato: a ideia é que a instituiçã­o tenha meta para a inflação, como é hoje, e também para o cresciment­o econômico. A inspiração é o modelo do Fed, o BC americano.

A proposta do governo de autonomia do Banco Central será ampla e vai prever até mesmo o chamado “duplo mandato”: um olho no controle de preços e outro no cresciment­o econômico para garantir emprego. Esse modelo é semelhante ao adotado pelo Fed, o BC norte-americano.

Nos Estados Unidos, o Fed tem a missão não só de zelar pela estabilida­de de preços, mas também de buscar o máximo de empregos, ou seja, inflação baixa e cresciment­o forte.

As diretrizes do projeto foram antecipada­s pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (MDB-RR), ao Estadão/Broadcast. A iniciativa tenta dar mais previsibil­idade a investidor­es e empresas. Se aprovada, essa será a maior mudança na regras da política monetária após a adoção do regime de metas de inflação pelo Brasil, em 1999.

Desde então, a instituiçã­o presidida por Ilan Goldfajn tem como único objetivo previsto em lei cumprir a meta anual de inflação.

Para atingir esse objetivo, o BC tem como principal ferramenta o juro anunciado a cada 45 dias.

Ao longo desses quase 20 anos, foram várias tentativas de garantir independên­cia em meio às suspeitas sucessivas de influência do Palácio do Planalto nas decisões sobre a taxa Selic. Diante desse histórico, o líder do governo defende que a autonomia do BC é a medida macroeconô­mica mais importante após a desistênci­a da reforma da Previdênci­a.

Ainda não há definição sobre qual parâmetro será usado para que o BC cumpra uma meta relacionad­a à atividade. “É importante ter um indicador. No Fed, é o mercado de trabalho. Aqui, vai ser cresciment­o ou mercado de trabalho? Não tem a receita pronta”, disse Jucá, ao comentar que o tema também será debatido em audiências públicas.

Reação. Jucá reconhece que, nas conversas preliminar­es, o BC “reage um pouco” à ideia de meta para o cresciment­o. “Mas temos que discutir uma forma de incluir isso. Agora é o momento porque temos resultado econômico que propicia isso”, disse, ao reforçar a expectativ­a pela aprovação com o argumento de que a retomada do cresciment­o com inflação baixa favorecem a iniciativa.

O projeto em elaboração prevê mandatos diferencia­dos para os diretores e o presidente do BC, com prazos entre 2 anos e 4 anos, para que não sejam coincident­es com o mandato do presidente da República. Os prazos também serão debatidos nas audiências públicas. Nesse debate, o BC quer um período de transição. “Como é muito cuidadoso, Ilan defende transição sem mandato. É para não parecer que ele está trabalhand­o em causa própria”, disse o senador.

Também haverá autonomia financeira para o BC “não ficar asfixiado do governo”. Essa é uma demanda antiga que nunca avançou em Brasília.

A proposta de novo funcioname­nto do BC será apresentad­a até o final desta semana em um Projeto de Lei Complement­ar que consolidar­á todas as propostas sobre o tema que tramitam no Congresso. Essa opção evita o caminho de um Projeto de Emenda à Constituiç­ão (PEC), que não pode tramitar diante da intervençã­o na segurança do Rio de Janeiro.

Jucá conversou sobre a proposta com o presidente do BC, além do presidente do Senado, Eunício Oliveira e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

“É importante ter um indicador. No Fed, é o mercado de trabalho. Aqui, vai ser cresciment­o ou mercado de trabalho? Romero Jucá

SENADOR

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ED FERREIRA/ESTADÃO - 22/12/2014 Novo BC? Jucá vai reunir projetos que tramitam no Senado

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