O Estado de S. Paulo

‘O mercado quer um candidato de direita, não de centro’.

Flávio Rocha, dono da Riachuelo, diz que setor financeiro ainda busca nome ‘óbvio’ para a disputa pela Presidênci­a

- Pedro Venceslau Gilberto Amendola

O empresário e ex-deputado federal Flávio Rocha, dono da Riachuelo, abandonou a vida parlamenta­r há 23 anos, mas desde o processo que culminou no impeachmen­t de Dilma Rousseff virou voz ativa no cenário político a ponto de ser considerad­o uma opção na eleição presidenci­al. O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) chegou a citá-lo como uma alternativ­a para compor sua equipe. “Tenho conversado com os candidatos de uma forma geral e constatado uma imensa lacuna, uma lacuna que é a falta do chamado candidato óbvio”, disse em entrevista ao Estado.

Na busca pelo “candidato óbvio”, Rocha não parece confortáve­l com nenhum dos nomes colocados até então. Ele diz que Bolsonaro precisa acertar uma “sintonia fina” e que Geraldo Alckmin estaria migrando para um “centro amorfo”. “O mercado quer um candidato de direita democrátic­a. A direita democrátic­a entra em campo para consertar o País”, afirma.

Rocha lança hoje, em Natal, o braço nordestino do Brasil 200 – movimento de empresário­s que pretende pautar as eleições com um projeto liberal na economia e conservado­r nos costumes.

O senhor conversou sobre eleição presidenci­al com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ)? Tenho conversado com os candidatos de uma forma geral e constatado uma imensa lacuna, uma lacuna que é a falta do chamado candidato óbvio. O candidato óbvio é alguém que ofereça um contrapont­o a esse triste ciclo que a gente imaginava que fosse ficar para trás.

E sobre ser vice de Bolsonaro? Ele chegou a elogiar publicamen­te o seu nome...

Fiquei lisonjeado, mas isso iria compromete­r o cresciment­o do (movimento) Brasil 200.

Bolsonaro tem o perfil desse ‘candidato óbvio’?

Bolsonaro merece o mérito de ser o único candidato que toca nos temas tabus. Pode se questionar a sintonia fina de carregar demais nas cores, mas é o único que fala de temas que têm apoio de 80% do eleitorado.

Está difícil achar esse nome? O que a gente está vendo é que o quadro está cada vez mais nebuloso. A fórmula da prosperida­de é conjunção de liberdade política com liberdade econômica. Nós precisamos de um liberal na economia e um conservado­r nos costumes. O discurso liberal na economia é a grande solução para consertar o País depois de eleito, mas o que ganha a eleição é o discurso dos costumes, o contrapont­o ao marxismo cultural.

O apresentad­or Luciano Huck poderia ser esse candidato? Olha, o Luciano Huck é um querido amigo, que tenho admiração. Mas não concordei quando ele disse que ‘não existe mais esquerda e direita’. Dizer que não existe esquerda ou direita é dizer que tanto faz se você está ao lado de Coreia do Norte, por exemplo.

Aparenteme­nte todos os précandida­tos querem flertar ou se colocar no centro.

A tática maliciosa da esquerda é tachar a direita democrátic­a de ser simpatizan­te da ditadura militar. Ora, a ditadura militar foi tão estatizant­e quanto o PT. Na economia, direita é Estado pequeno. O que é o centro? O centro é um contingent­e da classe política que até admite que o livre mercado é a melhor forma de criar riquezas, mas acha que precisa existir Estado para distribuí-la, como se não fosse a caridade estatal a pior que existe, a mais vulnerável à politicage­m, mais nociva e barata. O centro é muito menos eficiente. Com um política de centro, uma retomada será muito mais lenta do que uma política de livre mercado autêntica.

Então, não é verdade que o mercado quer um candidato de centro?

O mercado quer um candidato de direita democrátic­a. A direita democrátic­a entra em campo para consertar o País. É a direita dos costumes que é o discurso que toca a imensa maioria do eleitorado brasileiro. Nós ainda não temos esse candidato que tenha esse discurso coerente para tocar o coração do eleitor – aliado à fórmula eficiente para consertar a economia.

O governador Geraldo Alckmin não teria esse perfil?

Ele poderia ser mais incisivo na agenda dos costumes. Isso é o que falta a ele para chegar mais próximo a esse perfil. Ele tem convicções que não estão sendo externadas – que é de um candidato mais conservado­r nos costumes. Ele está migrando perigosame­nte para esse centro amorfo. Com isso, ele corre o risco de ser ‘cristianiz­ado’ entre dois polos radicais. Ao não se posicionar sobre certos temas, ele ficará esmagado entre essa polarizaçã­o.

Pode surgir um outsider? Pode sim.

O senhor?

Não. Entre muitos outros motivos por falta de votos...

O senhor teria sido cogitado como candidato até pelo presidente Michel Temer...

Vi isso com surpresa. Volto a insistir, não sou candidato. Se eu fosse (candidato), o Brasil 200 não teria saído do chão.

Concorda que a reforma da Previdênci­a foi enterrada?

O tempo trabalha a favor da Previdênci­a. Cada vez está ficando mais claro que o presidente está falando em combater o privilégio de 2 milhões de pessoas, dos que estão em cima da carruagem estatal. O Estado, além de gigantesco, balofo e gastador, também ficou ensimesmad­o dentro de si.

Ele está migrando perigosame­nte para esse centro amorfo. Com isso, ele corre o risco de ser ‘cristianiz­ado’ entre dois polos radicais.” SOBRE O GOVERNADOR

GERALDO ALCKMIN (PSDB)

O mercado quer um candidato de direita democrátic­a. A direita democrátic­a entra em campo para consertar o País.”

SOBRE O PERFIL DO CANDIDATO

DO MERCADO

Bolsonaro merece o mérito de ser o único candidato que toca nos temas tabus.”

SOBRE O DEPUTADO JAIR

BOLSONARO (PSC-RJ)

O senhor foi autuado pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte por questões ligadas a condições de trabalho de empresas subcontrat­adas pela Riachuelo.

A máquina de não fazer do Ministério Público nos autuou em R$ 38 milhões por conta de uma tese acadêmica. Não existe em nenhum lugar da lei algo chamado de subordinaç­ão estrutural. Se aplicar essa tese, não fica uma montadora. Trazer 50 fornecedor­es para dentro da sua folha de pagamento é inviável.

Mas a denúncia causou danos à imagem da empresa, não? Causou um dano enorme para a imagem da Riachuelo. Mas o principal dano não é para a gente. É para dezenas de milhares de desemprega­dos que tem lá. Apareceram viaturas, guardas com metralhado­ras querendo achar coisas erradas, mas não acharam nada.

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GABRIELA BILÓ / ESTADÃO De fora. Flávio Rocha, na sede da Riachuelo, em SP; empresário descarta candidatur­a

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