O Estado de S. Paulo

Temer investe em nova agenda e Bolsonaro reage

Eleição. Após intervençã­o na segurança do Rio, presidente prepara outras medidas de apelo popular; presidenci­ável, deputado diz que emedebista ‘não vai roubar’ seu discurso

- Vera Rosa Tânia Monteiro / BRASÍLIA Constança Rezende / RIO

O presidente Michel Temer pretende lançar medidas de apelo popular, a exemplo da intervençã­o na segurança pública no Rio. A ideia é passar uma imagem de “governo de resultados”, mesmo com ações antigas, e ter um discurso que vá além do que o núcleo político do Palácio do Planalto chama de “economês”. Embora negue publicamen­te, Temer tem demonstrad­o disposição de se candidatar a um novo mandato.

Com a intervençã­o no Rio, Temer virou o principal alvo de postulante­s à sua cadeira. Dono de impopulari­dade persistent­e, ele acirrou a temporada de ataques ao anunciar a inédita medida, além da criação do Ministério da Segurança Pública, também defendida pelo governador Geraldo Alckmin, do PSDB.

O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi um dos primeiros a reagir. Em vídeo postado nas redes sociais, o pré-candidato chamou de “política” a intervençã­o e aumentou o tom contra o presidente. Questionad­o por um interlocut­or se Temer estava roubando sua bandeira da segurança pública, respondeu: “Temer já roubou muita coisa aqui, mas o meu discurso ele não vai roubar, não”. O vídeo foi gravado pelo site Poder 360.

“É uma intervençã­o política que ele está fazendo. Ele agora está sentado, lá não sei onde, tranquilo, deitado. Se der certo, eu vou torcer para que dê certo, glória dele. Se der errado, joga a responsabi­lidade no colo das Forças Armadas.” A ordem no Planalto foi não responder aos ataques de Bolsonaro.

Estratégia. Além do aumento, acima da inflação, nos benefícios do Bolsa Família, previsto para ser anunciado até abril, a equipe de Temer apressa a estratégia para mostrar que está enxugando a máquina pública e as estatais, com planos de demissão voluntária, apesar das inúmeras indicações políticas e de gastos com imóveis desocupado­s.

O governo está fazendo pesquisas semanais para saber quais devem ser as prioridade­s nos próximos seis meses. Um dos cenários avaliados pelo Ibope mostrou que os entrevista­dos têm mais preocupaçã­o com saúde (41%), combate à corrupção (16%), desemprego (15%), educação (10%) e segurança pública (7%). Questões econômicas aparecem em último lugar. Em algumas sondagens, no entanto, a segurança lidera a lista de apreensões dos eleitores.

Por causa da decisão de convocar as Forças Armadas, a reforma da Previdênci­a foi engavetada no Congresso, pois alterações na Constituiç­ão são proibidas enquanto durar a medida. Para a oposição, a iniciativa tomada no Rio teve caráter eleitoreir­o.

“O governo mostra que está esperneand­o, que trocou de agenda saindo da impopularí­ssima reforma da Previdênci­a com um factoide de grande comoção no Rio de Janeiro”, afirmou o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT ao Planalto, após chamar Temer de “figura enojante” (mais informaçõe­s na página ao lado).

Sem a Previdênci­a e com uma agenda alternativ­a de difícil entendimen­to no Congresso, como a proposta que prevê a autonomia do Banco Central, a candidatur­a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), também foi esvaziada e vem sendo considerad­a com os dias contados. Nem mesmo o seu partido, que namora Alckmin, quer que ele deixe o cargo até 7 de abril para disputar a sucessão de Temer. Até agora, a filiação do ministro da Fazenda ao MDB não saiu do papel.

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