O Estado de S. Paulo

Jogadores se unem contra abusos

Com nomes de destaque no cenário nacional, como Rodrigo Caio, Moisés e Edu Dracena, campanha alerta para tema considerad­o tabu no meio do futebol

- Matheus Lara Paulo Favero

Nos últimos meses, o esporte mundial foi tomado por diversas denúncias de assédio, exploração e abuso sexual, ainda mais depois de casos de repercussã­o internacio­nal, como das ginastas nos Estados Unidos e de jogadores na Inglaterra. No Brasil, atletas de grandes clubes de futebol entraram numa campanha do Sindicato de Atletas de São Paulo para tratar de um tema que é considerad­o tabu no meio.

Diego Lugano, Rodrigo Caio, Giovanni (ex-Santos), Julio Cesar (goleiro do Red Bull Brasil), Leandrão (Boavista), Danilo Fernandes, Felipe (zagueiro do Porto), Souza (ex-Flamengo), Cicinho, Edu Dracena e Moisés, entre outros, gravaram vídeos e mensagens para chamar a atenção para o assunto.

“A ideia foi chamar jogadores de destaque, que são ouvidos pelo grande público e são formadores de opinião”, explicou Alexandre Montrimas, ex-goleiro e que já passou por situações delicadas em sua carreira.

“Eu sofri essa tentativa de abuso durante muitos anos, mas sempre entendi o que era isso, pois tinha meus pais perto de mim. Em 10 dos meus 20 anos de carreira, entre categoria de base e clubes pequenos, eu fui assediado. Justamente em um período em que eu me encontrava vulnerável”, disse.

Agora, Montrimas dá palestras para crianças e adolescent­es dos clubes em todo do Brasil para alertar sobre esse perigo. “O assédio vem em forma de convite, de abuso psicológic­o. Explico aos jovens o que é assédio e o que fazer para evitar e como denunciar. Após as palestras, às vezes eu tenho relatos de abusos sexuais, não no clube, mas de um amigo de alguém. Eles se identifica­m com isso, pois acaba criando uma ligação de confiança.”

As palestras são de prevenção. Quando o público é formado por crianças dos times sub10 e sub-13, Montrimas pede também a presença dos pais, que muitas vezes precisam ser alertados sobre os perigos que rondam seus filhos. “Aos poucos, os assistente­s sociais foram entendendo o projeto. Hoje tenho o apoio de todos eles”, comentou o ex-jogador, ciente de que a quantidade de assistente­s sociais nos clubes brasileiro­s – 45 no total em todo País – é muito pequena.

O início do trabalho foi no ano passado. Segundo o presidente do sindicato, Rinaldo Martorelli, em torno de 1.500 jovens já foram atendidos pelas palestras. “A ‘autoridade’ do assediador acaba intimidand­o o assediado. Em outros casos, a fragilidad­e, inclusive financeira, do assediado leva a esse tipo de situação. É a ‘autoridade’ do treinador, do preparador, do agente. Muitas vezes o menino nem entende que é assédio”, afirmou.

Tanto Martorelli quanto Montrimas lembram que esse tipo de campanha pode ajudar a prevenir situações como a que ocorreu na ginástica dos Estados Unidos, quando o médico Larry Nassar abusou de 156 mulheres e foi condenado a 175 anos de prisão. Na segunda-feira, o ex-treinador inglês Barry Bennell foi condenado a 30 anos de prisão por abusar de 12 crianças de 8 a 15 anos em um time que está atualmente na quarta divisão inglesa.

“Se tivesse tido campanha explicando o que é abuso, até para os pais, talvez esses episódios tristes não tivessem acontecido. Futebol é um esporte de massa e os alvos ficam fáceis para esses predadores. Queremos chamar atenção para o assunto”, concluiu Montrimas.

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Mensagem. Dracena, Moisés, Rodrigo Caio, Lugano, Cavalieri, Marcos Guilherme, Fubá, Giovanni, Victor Ferraz, Felipe, Julio Cesar e Danilo gravaram vídeos para alertar sobre o assunto

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