O Estado de S. Paulo

Classifica­ção de risco

Sem reforma, Fitch e Moody’s acendem alerta

- DYNIEWICZ, ALTAMIRO SILVA JUNIOR e RICARDO LEOPOLDO

A decisão do governo de abandonar a reforma da Previdênci­a neste momento acendeu o alerta nas agências classifica­doras de risco. Moody’s e Fitch emitiram comunicado­s expressand­o preocupaçã­o, sobretudo com a possibilid­ade de o teto de gastos ser violado. Segundo economista­s ouvidos pelo ‘Estado’, o teto deve estourar já em 2019.

“(O adiamento da reforma) é negativo para o perfil de crédito do país”, comentou Samar Maziad, vice-presidente da Moody’s. Em nota a jornalista­s, ela destacou que a postergaçã­o “restringir­á bastante a capacidade das autoridade­s de cumprir o teto de gastos nos próximos anos”. Segundo Maziad, a reforma da Previdênci­a “é fundamenta­l para as perspectiv­as de crédito da nação”.

Para a Fitch, o fracasso em votar a reforma reflete os desafios da implementa­ção de políticas corretivas em um ambiente político complicado e no contexto de um ciclo eleitoral iminente. “A pressão para baixo sobre a classifica­ção soberana do Brasil continua refletindo grandes déficits fiscais, um alto e crescente peso da dívida e a falta de aprovação da reforma da seguridade social que poderia ter contribuíd­o para reduzir as pressões estruturai­s sobre os gastos”, apontou Shelly Shetty, diretora de rating soberano para a América Latina da Fitch.

No Brasil, a postergaçã­o da reforma também preocupou economista­s. De acordo com dados de Paulo Tafner, pesquisado­r da Fipe/USP, o governo vai deixar de economizar entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões no ano que vem em decorrênci­a do adiamento da reforma. “Com isso, vamos ultrapassa­r o teto já no ano que vem”, frisou. Para Fabio Klein, da Tendências Consultori­a, a aprovação da reforma em fevereiro teria um impacto já no curto prazo que ajudaria o governo a manter os gastos em patamar inferior ao teto. “Mesmo desidratad­a, ela tinha ganhos, dado o tamanho do déficit que a previdênci­a produz.”

O economista Leonardo Rolim, consultor de orçamentos da Câmara, afirma ainda que, diante da situação, o próximo presidente terá de fazer uma reforma com uma regra de transição bastante dura ou acabar com a regra de outro (dispositiv­o da Constituiç­ão que impede a emissão de dívida pelo governo para o pagamento de despesas correntes, como salários). “O governo já está fazendo mágica neste ano, pegando o dinheiro do BNDES, para não ultrapassa­r o teto. Ano que vem, não vai ter essa mágica”, diz.

Cálculos do Itaú Unibanco indicam que a demora em aprovar a reforma representa­rá uma perda no resultado primário de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025. A aprovação do texto no fim do ano passado teria impacto no resultado primário de 1,2% do PIB em 2025. Se essa mesma proposta passar em 2019, o impacto cai para 1%. “É uma oportunida­de perdida, é uma derrota para o ajuste fiscal e a vitória para algumas categorias que se beneficiam”, disse o economista-chefe do banco, Mario Mesquita.

O Itaú estima que a relação entre a dívida bruta e o PIB deve ficar estável até 2019, na casa dos 74%. Mas a continuida­de dessa estabilida­de dependerá do avanço das reformas, especialme­nte a da Previdênci­a, de acordo com Mesquita./LUCIANA

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: INSTITUIÇíO FISCAL INDEPENDEN­TE

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