O Estado de S. Paulo

Teuto tenta reestrutur­ar dívida para buscar sócio

Laboratóri­o estaria em conversas com potenciais investidor­es, entre eles o fundo soberano de Cingapura e o brasileiro Principia Capital Partners

- Fernando Scheller Mônica Scaramuzzo

Sete meses depois de retomar o controle de 100% do laboratóri­o Teuto, de Anápolis (GO), a família Melo está reestrutur­ando suas pesadas dívidas e pretende voltar a buscar um sócio para o negócio, apurou o ‘Estado’ com duas fontes a par do assunto. A farmacêuti­ca, que tinha a gigante americana Pfizer como acionista, com 40% do negócio, está alongando entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões em dívidas, de um total de cerca de R$ 700 milhões em débitos com os bancos Bradesco, Itaú e Santander.

A expectativ­a da empresa, após essa reestrutur­ação, é voltar a trabalhar para atrair um sócio para financiar os planos de expansão da companhia. Fundos de investimen­tos já estariam avaliando o laboratóri­o, entre eles o fundo soberano de Cingapura, o GIC, e o brasileiro Principia, embora as negociaçõe­s ainda não tenham entrado no estágio formal. O Estado apurou que o Principia veria a Teuto como uma forma de ampliar sua presença na área farmacêuti­ca – o fundo já tem a Cellera entre os negócios de seu portfólio.

O objetivo, após a reestrutur­ação de débitos, é garantir que a empresa como um todo seja avaliada em R$ 1,5 bilhão. Pessoas que conhecem o negócio de perto, porém, não acreditam que o laboratóri­o possa ser vendido com base nesse valor, por causa de sua dependênci­a dos genéricos – produtos de preço mais baixo – e de questões operaciona­is na fábrica. Hoje, o faturament­o anual do Teuto é de cerca de R$ 770 milhões.

Histórico. Originalme­nte fundado em 1947 por um empresário alemão, o Teuto está sob o comando da família Melo desde 1986, quando foi comprado por apenas US$ 2 milhões.

Posteriorm­ente, nos anos 2000, o empresário Walterci de Melo decidiu construir a maior fábrica de genéricos da América Latina. O investimen­to deixou a empresa em dificuldad­es, e o negócio passou por uma reestrutur­ação antes de atrair a atenção da Pfizer.

A gigante americana anunciou, em outubro de 2010, o pagamento de R$ 400 milhões por uma fatia 40% da companhia, com opção de comprar os 60% restantes. No entanto, a múlti americana decidiu sair do negócio e colocou sua fatia à venda.

Entre 2016 e o início de 2017, quando a Pfizer buscava um comprador, a participaç­ão da gigante farmacêuti­ca na Teuto chegou a atrair o interesse do fundo Advent e da Hypermarca­s (agora Hypera Pharma), dona do laboratóri­o Neo Química, mas as negociaçõe­s não avançaram na época.

Ao Estado, o presidente executivo da companhia, Marcelo Leite, confirmou que a empresa está em processo de reestrutur­ação de parte de suas dívidas com os bancos Bradesco, Itaú e Santander. Disse ainda que essas instituiçõ­es vão estudar novos rumos para o negócio, mas não quis dar mais detalhes.

Procurados, Bradesco, Itaú e o fundo Principia não comentaram o assunto. O Santander e o GIC não retornaram os pedidos de entrevista.

Consolidaç­ão. Os laboratóri­os nacionais atraíram diversos grupos estrangeir­os entre 2009 e 2010, que fizeram fortes apostas no segmento de genéricos. O setor viveu um movimento de consolidaç­ão no Brasil, mas parte desses grupos, como a própria a Pfizer e a francesa Sanofi (dona da Medley), decidiram rever suas estratégia­s globais e reduziram suas exposições neste segmento.

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