O Estado de S. Paulo

Eleições motivam críticas de Maia e Eunício ao Planalto

Presidente­s da Câmara e do Senado buscam protagonis­mo e não querem parecer que são ‘pautados’ por Temer

- BRASÍLIA / V.R. e I.G.

O confronto aberto pelos presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), com o presidente Michel Temer – por causa do “plano B” do governo no Congresso, após o fiasco da reforma da Previdênci­a – tem como pano de fundo as eleições. Os dois estão em busca de protagonis­mo na cena política e não querem parecer que são “pautados” por uma gestão impopular.

A reação começou após o decreto de intervençã­o federal no Rio. Maia e Eunício avaliam que Temer passou por cima do Legislativ­o ao tentar puxar para o governo a pauta da segurança pública. O clima piorou com o anúncio, feito pelo Palácio do Planalto, de uma “agenda alternativ­a” com 15 projetos econômicos, para compensar o enterro das mudanças nas regras da aposentado­ria.

Para Maia, as medidas cheiram a “café velho e frio, que não atende à sociedade”. “Esses temas já estão na pauta aqui há muito tempo. De repente vira uma pauta do governo? A pauta da Câmara quem faz é a presidênci­a da Câmara, não é o presidente da República. É uma questão de respeito institucio­nal”, criticou ele.

Pré-candidato ao Palácio do Planalto, Maia atribuiu a Temer a intenção de criar um imposto para bancar a segurança pública. “Expliquei a ele: é inviável, porque, por lei, tem que ser para o próximo ano e por emenda constituci­onal não pode por causa do decreto da intervençã­o”, afirmou o deputado. A ideia do imposto, considerad­a extremamen­te impopular, ainda não foi tratada oficialmen­te pelo governo.

Na tentativa de puxar o protagonis­mo de volta para si, o presidente da Câmara determinou a criação de um “observatór­io” para fiscalizar as ações de segurança pública do governo, inclusive a própria intervençã­o, e decidiu iniciar na próxima semana votações de projetos na área. O plano é criar uma comissão especial para “consolidar” as propostas que serão votadas.

Responsáve­l pela articulaçã­o política com o Congresso, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, fez um mea-culpa pela forma como o Planalto anunciou o pacote de 15 medidas, mas disse que o “mal-entendido” foi superado. “Talvez, e eu sou uma pessoa muito franca, antes de anunciar devêssemos ter trazido aqui e comunicado (Maia e Eunício), mesmo que tivesse havido algumas discussões. Talvez, mas isso já é coisa superada.”

Auxiliares de Temer dizem não entender Maia, mas acreditam que seus últimos movimentos estão relacionad­os à intervençã­o federal no Rio. A atitude de Eunício causou ainda mais estranheza no Planalto. O emedebista afirmou que o Senado não é um “puxadinho” do governo. Para interlocut­ores de Temer, o que está por trás dessas declaraçõe­s é mesmo a campanha eleitoral.

Lula. Eunício vai disputar novo mandato no Senado na chapa do governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Além disso, se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrar no páreo, o palanque de Eunício abrigará o petista, e não um concorrent­e do MDB. Nesse jogo, enquanto a rejeição a Temer não diminui, mesmo quem é de seu partido adota a estratégia do “morde e assopra” e mantém distância regulament­ar do governo.

 ?? ADRIANO MACHADO/REUTERS-19/2/2018 ?? Pauta. Maia critica projetos anunciados pelo governo
ADRIANO MACHADO/REUTERS-19/2/2018 Pauta. Maia critica projetos anunciados pelo governo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil