O Estado de S. Paulo

Ciro e Haddad avaliam união da esquerda

Pré-candidato do PDT à Presidênci­a e ex-prefeito petista discutem possível aproximaçã­o entre partidos antes de início formal da campanha

- Ricardo Galhardo

Em jantar realizado anteontem, no apartament­o do exdeputado Gabriel Chalita (PDT), o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o pré-candidato do PDT à Presidênci­a, Ciro Gomes, discutiram a criação de condições para uma aproximaçã­o entre partidos de centro-esquerda ainda antes do início formal da campanha eleitoral e dos registros das candidatur­as, em agosto.

Segundo interlocut­ores de Ciro e Haddad, a conversa não ocorreu em torno da escolha de nomes nem da possibilid­ade cada vez maior de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser impedido pela Justiça de disputar a eleição.

Os temas principais foram a necessidad­e da centro-esquerda se unir para fazer frente às candidatur­as de centro-direita e como alinhavar essa união diante da inconsistê­ncia do cenário eleitoral em que, faltando seis meses para o registro das candidatur­as, poucos nomes conseguira­m se consolidar, seja por motivos políticos, seja por razões legais. De acordo com pessoas que falaram com Ciro e Haddad, ambos consideram que a unidade é a única forma de impedir o avanço da direita nas eleições de 7 de outubro.

Ciro teria proposto a criação de um ambiente de diálogo no qual todas as siglas manteriam seus nomes, inclusive o de Lula, que leve à consolidaç­ão da unidade antes dos registros das candidatur­as. Haddad se dispôs a levar a proposta para Lula e o PT.

Manifesto. Outros partidos serão convocados. Ambos concordara­m que o manifesto divulgado também na terça-feira pelas fundações ligadas ao PT, PDT, PCdoB, PSB e PSOL pode ser um ponto de partida para o início da aproximaçã­o. O documento omite qualquer referência em relação à candidatur­a de Lula. Segundo pessoas que participar­am da elaboração do texto, a omissão foi um pedido de Ciro, que também é o único pré-candidato da centro-esquerda a não assinar o manifesto “Eleição sem Lula é Fraude”.

Conforme aliados de Ciro, Haddad teria salientado a dificuldad­e de convencer o PT a apoiar um nome de outro partido e o pré-candidato do PDT teria dito que já retirou a candidatur­a uma vez, em 2010, a pedido de Lula, e não está disposto a repetir o gesto.

Coordenado­r do programa de governo do PT para as eleições deste ano, Haddad é cotado para suceder a Lula caso o ex-presidente seja impedido pela Justiça de se candidatar. Já Ciro é apontado como possível herdeiro dos votos do petista. Ele foi ministro da Integração Nacional no governo Lula e é um dos o pré-candidatos que mais crescem caso o ex-presidente fique inelegível, segundo as pesquisas de opinião.

Condenado em segunda instância a 12 anos e 1 mês de prisão em regime fechado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá, Lula pode ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Além de Ciro e Lula, o PCdoB já lançou o nome da deputada estadual Manuela D’Ávila (RS) como pré-candidata ao Planalto e o PSOL tenta convencer Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto (MTST), a se filiar e disputar a Presidênci­a.

O PSB negocia apoio ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mas mantém canais de diálogo com Lula.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil