Testemunha diz que elaborou escritura de sítio para Lula
Segundo escrevente, documento de compra e venda do imóvel foi preparado a pedido de advogado do petista
O escrevente João Nicola Rizzi afirmou ontem, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, ter feito a minuta de escritura de compra e venda do sítio de Atibaia (SP) na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-primeira-dama Marisa Letícia aparecem como compradores do imóvel. O documento foi apreendido em março de 2016 na casa do petista em São Bernardo do Campo.
O caso envolvendo a propriedade rural atribuída pelo Ministério Público Federal a Lula resultou na terceira denúncia contra o ex-presidente na Lava Jato. Segundo a Procuradoria, Odebrecht, OAS e Schahin, por meio do pecuarista José Carlos Bumlai, pagaram R$ 1,02 milhão em obras no sítio em troca de contratos da Petrobrás. O imóvel foi comprado no fim de 2010, quando Lula deixava a Presidência, pelos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna.
Rizzi confirmou depoimento que já havia prestado na Lava Jato. Ele disse ter feito o documento em que constam os nomes de Lula e Marisa a pedido do advogado Roberto Teixeira, em 29 de outubro de 2010. Segundo o escrevente, a minuta foi lavrada no escritório do defensor e compadre do ex-presidente. Nela, consta que a compra seria feita em 2012.
Após a primeira tratativa com Teixeira, relatou o escrevente, o documento “teve todo o trâmite no cartório”. Depois, “estacionou”. Posteriormente, disse, quando já havia notícias na imprensa que ligavam o sítio a Lula, atendendo a uma nova solicitação do advogado, elaborou outra minuta, em que o nome dos compradores ficou em branco. Neste documento, a data da transferência do imóvel seria feita em 2016. O escrevente afirmou que ouviu de Teixeira que as lacunas seriam preenchidas com o nome de Lula.
Bertin. Também ontem, testemunhas ligadas ao Grupo Bertin confirmaram a Moro o pagamento de reformas no sítio. Para a Lava Jato, a fim de ocultar a origem dos recursos empregados no local, Bumlai pediu a seu sócio na Usina São Fernando, Reinaldo Bertin, que repasses à propriedade fossem feitos por empresas do grupo empresarial. “O Zé Carlos Bumlai pediu que ele ia usar o engenheiro da São Fernando lá (no sítio). Bumlai pediu que acertasse o consultor que ele ia creditar para nós na conta que nós tínhamos na usina”, relatou Reinaldo Bertin.
O processo envolvendo o sítio entrou na fase de instrução (produção de provas) em 5 de fevereiro e, desde então, testemunhas de acusação têm prestado depoimento. Lula e mais 12 pessoas são réus na ação penal.
A defesa de Lula afirmou que o depoimento de Rizzi “mostra a prática de atos estritamente relacionados à advocacia” por parte de Teixeira. “A escritura foi firmada por Fernando Bittar e Jonas Suassuna no escritório de Teixeira, da mesma forma como ocorreu com outros clientes do advogado.” A Odebrecht informou que colabora com a Justiça. Os outros citados não se manifestaram até a conclusão desta edição.