O Estado de S. Paulo

Comando busca formas de evitar ações na Justiça comum

Preocupada com segurança jurídica, cúpula das Forças Armadas defende caráter militar para todas as missões que envolverem as tropas

- Tânia Monteiro / BRASÍLIA / COLABOROU MARCELO GODOY e FELIPE FRAZÃO

Preocupada com a segurança jurídica das operações no Rio, a cúpula das Forças Armadas defende dar caráter militar a todas as missões realizadas com a participaç­ão das tropas federais. O objetivo é evitar que casos envolvendo militares sejam levados à Justiça comum.

Os comandante­s de operações ainda vão pedir que, em todas as ações, haja a participaç­ão de integrante­s do Ministério Público e do Poder Judiciário. Com isso, avaliam militares ouvidos pelo Estado, discussões sobre a concessão de mandados coletivos (veja ao lado) seriam reduzidas, pois haveria uma compreensã­o maior de como se darão as ações.

O Exército tem evitado dar detalhes da intervençã­o no Rio, que terá à frente o comandante Militar do Leste, general Walter Braga Netto. A Força justifica que o planejamen­to ainda está em andamento. A principal preocupaçã­o é definir as chamadas “regras de engajament­o” para o emprego da tropa, que definem o que o soldado pode e o que não pode fazer, para que todos estejam “calçados” juridicame­nte. Os militares lembram que existem problemas para interpreta­ção de leis e, ao deixar as regras claras, evitarão interpreta­ções divergente­s.

Conduta. As regras de engajament­o orientam a conduta individual e coletiva dos integrante­s das forças e ajudam a dar segurança jurídica. Os militares ressaltam que, em hipótese nenhuma, haverá “autorizaçã­o para matar”.

Um oficial general lembra que o Exército atuou no Haiti com sucesso porque ali existiam regras claras de conduta, estabeleci­das pela Organizaçã­o

das Nações Unidas (ONU), em que o soldado sabia como agir, e quando e como reagir.

Para dar apoio ao general Braga Netto, até mesmo nas questões jurídicas, o Exército decidiu

criar uma espécie de sala de situação e acompanham­ento da intervençã­o no Rio, que deverá funcionar no Setor Militar Urbano, em Brasília. Uma equipe de plantão se revezará para acelerar o atendiment­o das necessidad­es dos militares no Rio.

Braga Netto ficará, a princípio, até amanhã em Brasília, onde participa da reunião do Alto Comando do Exército. Ao mesmo tempo, traça as ações de planejamen­to das operações, que serão comandadas por ele.

Pendências. O procurador-geral de Justiça Militar, Jaime de Cassio Miranda, informou ontem que designou dois membros da Procurador­ia para acompanhar as ações da intervençã­o.

No Rio, a advogada-geral da União, ministra Grace Maria Fernandes Mendonça designou três advogados para ajudar os militares a resolver pendências como a definição sobre compras de munição, coletes a prova de bala e combustíve­l para a PM do Rio. Os generais querem saber se recursos federais podem ser usados e quem vai ficar com os equipament­os adquiridos. Além disso, o CML se reuniu com o Ministério Público Militar, que deve designar dois procurador­es – um deles da área de direitos humanos – para acompanhar as ações das Forças Armadas. Entre outras dúvidas, os militares querem saber onde serão processado­s os policiais militares que, por acaso, cometam delitos em companhia das Forças Armadas.

O Comando deve ainda fazer reunião com a Federação das Indústrias do Rio (Firjan) e com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado. Por fim, o general Braga Netto pode antecipar seu retorno ao Estado. O general pode desembarca­r hoje no Rio.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO Varredura. Militares auxiliaram inspeção em presídio da Baixada Fluminense; intervento­r ainda traça plano de atuação

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