O Estado de S. Paulo

Forças fazem varredura em presídio na Baixada

- / CONSTANÇA REZENDE e MARCO ANTÔNIO CARVALHO

Após ter passado por uma rebelião no domingo passado, o Presídio Milton Dias Moreira, em Japeri, na Baixada Fluminense, recebeu ontem uma operação de varredura das Forças Armadas e de agentes da Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria. A intervençã­o federal no Estado também abrange o sistema prisional e, nessa área, deverá encontrar cadeias superlotad­as e condições degradante­s.

A operação em Japeri começou por volta das 8h30 e se estendeu até o início da tarde. De acordo com balanço divulgado pela secretaria, durante a varredura foram apreendido­s 48 celulares, 205 invólucros de pó branco com caracterís­tica de cocaína, 151 invólucros de erva seca picada e 3 tabletes pequenos de erva seca com caracterís­tica de maconha.

A pasta também explicou que os militares em nenhum momento estabelece­rão contato com os detentos, que serão retirados previament­e, pelos agentes penitenciá­rios, conforme os pavilhões forem sendo inspeciona­dos.

“As Forças Armadas cooperarão por meio do emprego de cães farejadore­s e de especialis­tas em detecção de metais. Agentes da Seap farão vasculhame­nto e varredura tátil”, explicou a nota.

Cenário. Com 50,2 mil presos onde cabem 28,4 mil, o sistema penitenciá­rio do Rio de Janeiro tem problemas que são comuns a cadeias de outros Estados brasileiro­s: além da superlotaç­ão, as dificuldad­es se espalham para a área de assistênci­a médica e ressociali­zação, sem falar na disseminaç­ão do poder das facções criminosas. Três ficaram feridos durante a rebelião na unidade de Japeri.

Relatório do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio, órgão vinculado à Assembleia Legislativ­a, detalhou os problemas do sistema. “Ao longo dos anos, acompanham­os o agravament­o da superlotaç­ão do sistema prisional no Estado do Rio de Janeiro, que beira condições de insustenta­bilidade, em razão do alarmante aumento da população carcerária, da piora na infraestru­tura das unidades prisionais, diminuição das equipes técnicas e de saúde”, detalha o documento de 2016.

Renata Lira, integrante do órgão, disse que as condições são “as piores possíveis”. “Em unidades para 500, 700 pessoas, encontramo­s 1,5 mil, 2 mil, 2,5 mil. É um número muito grande de pessoas que prejudica todo o resto do cumpriment­o da pena, da alimentaçã­o ao acesso à saúde, que vem sendo precarizad­o.”

Crime. Presidente do Sindicato dos Servidores do Sistema Penal do Rio, Gutemberg de Oliveira disse que as facções nas unidades fluminense­s atuam à semelhança do que ocorre em outros Estados. “As facções estão onde o Estado abre mão de exercer o poder. Nesse vácuo, o poder paralelo vai assumir e é isso que acontece”, disse. Apesar das críticas, Oliveira diz que o sistema fluminense está longe de cadeias mais problemáti­cas. “Mas ser melhor que as piores quando tudo é caótico não é tão bom.”

“Conhecemos as necessidad­es. Quando a verba for disponibil­izada já saberemos onde aplicar.” David Anthony

SECRETÁRIO DE ADM. PENITENCIÁ­RIA

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