O Estado de S. Paulo

Último grande hospital psiquiátri­co paulista será desativado

159 pacientes que restam no Vera Cruz devem ser transferid­os para residência­s terapêutic­as ou casas de parentes

- José Maria Tomazela SOROCABA

O Hospital Vera Cruz, último dos grandes hospitais psiquiátri­cos que ainda funcionam no interior de São Paulo, está em contagem regressiva para fechar as portas, em Sorocaba. Os últimos 159 pacientes devem ser transferid­os até o início de março para as residência­s terapêutic­as ou a casa de parentes. A desativaçã­o está marcada para o dia 6, com a entrega das instalaçõe­s aos proprietár­ios.

Grupos de pacientes remanescen­tes estão recebendo alta diariament­e. Desde 2012, quando a prefeitura assumiu a gestão do antigo manicômio, após acordo com o Ministério Público, cerca de 400 pacientes foram retirados do local.

Símbolo da política de desospital­ização do paciente mental, o Vera Cruz funcionou durante quase 60 anos como hospital de loucos, à margem do km 109 da Rodovia Raposo Tavares. Entre 2006 e 2007, o hospital chegou a registrar 46 mortes – uma a cada 15 dias, segundo a Frente Antimanico­mial, coordenada por pesquisado­res da Universida­de Federal de São Carlos (Ufscar). Na época, essa alta mortalidad­e foi usada como bandeira na luta pelo fechamento dos manicômios. Em 2011, a administra­ção do Vera Cruz foi investigad­a pela polícia e pelo MP por suspeita de maus-tratos e cárcere privado. O hospital foi parcialmen­te interditad­o pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e proibido de receber mais pacientes.

O Vera Cruz é o maior entre os seis hospitais psiquiátri­cos que funcionava­m na região. Em Sorocaba, já foram fechados os Hospitais Teixeira Lima, Mental e Jardim das Acácias. Em Piedade, saíram os últimos pacientes do hospital Vale das Hortências, e, em Salto de Pirapora, do Santa Cruz. Juntos, eles abrigavam cerca de 2,7 mil doentes.

Desde criança. A paciente Carla dos Santos, de 36 anos, conta que passou a vida em hospitais psiquiátri­cos de Sorocaba. “Eu fui achada na rua, quando tinha 7 anos. Não lembrava de nada, não sabia da minha família, de ninguém. Então a polícia me levou para o hospital e acabei internada. Só saí para vir para cá”, conta. Ela está abrigada há seis anos na casa terapêutic­a do bairro do Éden. E continua sem lembrar da família, que também nunca a procurou.

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EPITACIO PESSOA/ESTADAO-16/2/2018 Em Sorocaba. Vera Cruz funcionou durante quase 60 anos

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