O Estado de S. Paulo

MISSÃO É ENCERRAR JEJUM DE 25 ANOS

Argentina não ganha um título desde 1993

- Gonçalo Junior

Após classifica­r a Argentina na última rodada das Eliminatór­ias Sul-Americanas, na bacia das almas, o técnico Jorge Sampaoli fez uma declaração solene sobre o jejum de Lionel Messi na seleção. O jogador eleito cinco vezes o melhor do mundo nunca levantou um troféu pelo seu país. No Brasil, em 2014, a Argentina ficou em segundo na final contra a Alemanha. “Não é Messi que deve um Mundial à Argentina. É o futebol que deve uma Copa a Messi”, declarou o treinador de 57 anos.

Esse é o desafio que Sampaoli impôs a si próprio: fazer um acerto de contas com o passado, o presente e o futuro do futebol e dar a Messi a Copa do Mundo. O drama do craque argentino está circunscri­to na angústia da nação, que não conquista nada no futebol mundial há 25 anos. O último troféu foi o da Copa América de 1993, quando o time ainda tinha Gabriel Batistuta. Tudo isso está nas costas de Jorge Luis Sampaoli Moya.

Os argentinos acreditam que ele consegue suportar o peso. O técnico chegou à seleção como salvador da pátria. O time penava em uma das piores campanhas de sua história nas Eliminatór­ias e já havia descartado dois técnicos (Martino e Bauza).

Sampaoli trazia um currículo vistoso. Sua ascensão começou na Universida­d de Chile, onde conquistou quatro títulos consecutiv­os. Foi sua carta de recomendaç­ão para dirigir a seleção chilena. Após ser eliminado nos pênaltis nas oitavas de final da Copa no Brasil, em uma partida em que amassou os donos da casa, de Thiago Silva e Neymar, e acertou uma bola na trave no fim da prorrogaçã­o, o treinador conseguiu a glória de levar o Chile à sua primeira conquista internacio­nal: a Copa América de 2015. Virou um semideus.

Sampaoli não tem apenas títulos, mas uma aura, uma mística. Discípulo de Marcelo Bielsa, ele herdou a obsessão pelo estudo do adversário, a ponto de tentar prever o que vai acontecer taticament­e no confronto. “El Loco” é sua inspiração declarada em vários aspectos: o gosto pelo futebol ofensivo, um estilo de jogo dinâmico e intenso, com marcação na saída de bola do oponente, uso constante das triangulaç­ões, principalm­ente pelos lados do campo. E verticalid­ade. O Chile de Sampaoli espremia o rival na defesa até ele confessar e se entregar.

Ele não teve tempo de impor sua filosofia nas Eliminatór­ias. O desafio era classifica­r a Argentina, e ele chegou em setembro. Levou o jogo contra o Peru para La Bombonera, chamou jogadores de Boca Juniors e River Plate, barrou o “craquinho” Dybala e, com três gols de Messi na última rodada, chegou à sua primeira Copa do Mundo.

Admirado pelo conhecimen­to profundo de esquema e estratégia­s táticas, Sampaoli precisa agora domar o temperamen­to, outro traço de sua mística. Em dezembro, humilhou um policial em uma blitz. Disse que ele ganhava “100 pesos por mês”, o que dá menos de R$ 20. A cena ganhou as redes sociais e muita gente pediu sua demissão, até mesmo setores da influente imprensa argentina. No dia seguinte, ele se desculpou.

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Obstinado. Sampaoli é adepto ferrenho do jogo ofensivo

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