Bancos privados se movem para operar FGTS
Em meio à restrição de capital da Caixa Econômica Federal, os bancos privados começaram a estudar a possibilidade de operar os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O foco dessas instituições, entretanto, é apenas o Pró-Cotista, linha de financiamento de imóveis com taxas menores para trabalhadores com recursos no fundo. Neste momento, os bancos calculam se a aposta vale a pena. Isso porque, diferentemente das demais linhas, a prestação de contas na linha do FGTS é maior do que nas modalidades tradicionais. Essa discussão ainda é interna em cada banco, mas, nos bastidores, já se cogita a possibilidade de apresentarem uma proposta conjunta do setor, pelo Pró-Cotista, ao Conselho Curador do Fundo via a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). No caso das áreas de saneamento e mobilidade urbana, os bancos privados não demonstram tanto apetite, por mais que o governo queira. » Ter é poder. Os bancos garantem que podem entregar retorno acima dos 3% exigidos pelo FGTS. O interesse das instituições não se dá só pelo fato de o crédito imobiliário fisgar clientes por até 30 anos, mas também por permitir a oferta de penduricalhos, como cartão de crédito, seguros e produtos de investimento.
» Temor. A movimentação dos bancos privados preocupa, por outro lado, os donos de construtoras. Empresários temem que essas instituições cobrem spreads maiores (diferença de quanto um banco paga para captar e o quanto cobra para emprestar), o que poderia esfriar as vendas exatamente em um momento em que o mercado demonstra recuperação ainda incipiente. Criticam, ainda, o fato de os bancos não demonstrarem interesse em toda a operação do FGTS.
» Nada bobos. Esse produto é tido como o ‘filé’ do mercado imobiliário e do próprio FGTS. Não é para menos. Essa é a linha mais atrativa do setor, perdendo apenas para o Minha Casa, Minha Vida. Com juros que variam de 7,5% a 8,6% ao ano, contra um custo de captação de 3% - remuneração paga ao FGTS -, esses empréstimos somaram mais de R$ 6 bilhões no ano passado. De 2018 a 2021, o orçamento da linha Pró-Cotista é de R$ 5 bilhões anuais. » Custos. A Caixa Econômica Federal deve anunciar um novo programa de demissão voluntária (PDV) aos seus funcionários nesta sextafeira, dia 24. A iniciativa ocorre no âmbito da sua busca por reduzir custos, ser mais eficiente e, principalmente, melhorar o seu capital, após ter barrada a operação de até R$ 15 bilhões junto ao FGTS. Ontem, em seminário internacional sobre financiamento estudantil, o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, afirmou que o anúncio ocorrerá até o final deste mês.
» Velha receita. Nos dois últimos PDVs, realizados no ano passado, a Caixa contabilizou cerca de 7,3 mil adesões, que permitiram ao banco uma economia de mais de meio bilhão de reais, conforme relatório das demonstrações financeiras do terceiro trimestre. O banco precisava do aval da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), que estava a espera do posicionamento do Ministério da Fazenda, para tocar o novo PDV. Tanto que a ideia era anunciá-lo ainda em janeiro, mas só se concretizou agora.
» Mudanças. O Grupo Sorocred, focado em crédito e meios de pagamento, recorreu a nomes tradicionais do mercado de cartões para reforçar o seu Conselho de Administração. Um deles é o ex-Rede (Redecard) Cláudio Yamaguti, que antes comandou as operações paraguaias do Itaú Unibanco. A companhia trouxe ainda Reginaldo Zero, que presidiu a processadora de cartões de crédito Fidellity no Brasil e ainda acumula passagens por American Express e Visanet, atual Cielo.
» Concorrido. Além de melhorar a sua governança, o reforço no colegiado vem para engatilhar a companhia para o competitivo mercado de cartões no Brasil. Além de Yamaguti e Zero, o Conselho de Administração do Sorocred conta ainda com os fundadores e acionistas.
» Raio-X. O primeiro censo do mercado de fintechs no Brasil já está no forno. A Associação Brasileira das Fintechs (ABFintechs) e a PWC Brasil estão realizando uma pesquisa para traçar o perfil, local de concentração, assim como o foco de atuação das novatas no mercado financeiro, por exemplo. A radiografia das empresas e empreendedores deve ser divulgada até maio. » Na prática. Um dos efeitos da Operação Lava Jato foi o aumento da percepção de risco entre executivos brasileiros com corrupção e proteção e privacidade de informações, mostra a Pesquisa Global Forensic Data Analytics Survey 2018, realizada pela consultoria Ernst & Young (EY). Conforme o levantamento, no Brasil, 40% dos entrevistados estão mais preocupados com corrupção dentro das empresas, enquanto globalmente esse porcentual é de 14%. Ao todo, foram ouvidos 745 executivos, em 19 países.
COM CIRCE BONATELLI