O Estado de S. Paulo

Governo avalia nova MP para rodovias

Medida que socorre concession­árias e amplia prazo para investimen­tos não foi votada

- Daiene Cardoso Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

O governo avalia a possibilid­ade de editar um novo projeto de lei ou uma nova versão da Medida Provisória (MP) 800, que socorre as concession­árias que arrematara­m trechos de rodovias federais nos leilões realizados na administra­ção de Dilma Rousseff, algumas delas grandes construtor­as envolvidas na Lava Jato. Ela permite que os investimen­tos em duplicação, prometidos para o prazo de cinco anos, sejam alongados para até 14 anos.

Essas alternativ­as ganhavam força porque, pelo segundo dia consecutiv­o, um grupo de deputados, inclusive da base governista, obstruiu a votação do texto. O motivo era a irritação com a inclusão de um “jabuti” (matéria estranha) no texto: a prorrogaçã­o de contratos de concessão de portos secos. O próprio governo, contrário a essa alteração, cogitava em deixar a MP caducar.

Esse dispositiv­o estranho à MP beneficia contratos anteriores a 2003 e prevê concessões de 25 anos prorrogáve­is por mais 10 anos. O “jabuti” que saiu da comissão especial está sendo questionad­o no plenário pela base governista e oposição, que devem apoiar um destaque do PPS retirando o trecho da MP. “É uma coisa estranha. Porto Seco não tem obrigação de infraestru­tura para o Estado, não se discute o prazo de cada uma (concessão), não tem debate com o Tesouro Nacional. Isso é muito complexo”, criticou o líder do PPS, Alex Manente (SP).

A dificuldad­e em avançar com a MP preocupa o setor. “A aprovação da MP 800 pelo Congresso Nacional permitirá a retomada dos investimen­tos nas rodovias federais da terceira etapa, melhorando a infraestru­tura e reduzindo o custo Brasil”, defendeu o presidente da Associação Brasileira das Concession­árias de Rodovias (ABCR), César Borges. “Já a sua não aprovação significar­á um retrocesso no programa de concessões de rodovias federais.” Exministro dos Transporte­s e exsenador, ele pressionou o governo a editar a MP. Para isso, derrotou resistênci­a das áreas técnicas do Executivo.

Pelos contratos, as concession­árias deveriam entregar as duplicaçõe­s em cinco anos, ou seja, entre 2018 e 2019. Mas esses prazos não serão cumpridos. Elas alegam que não conseguira­m fazer os investimen­tos por causa da crise econômica e da dificuldad­e em obter financiame­ntos no Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES).

Prazo. Com a MP 800, elas ganhariam mais prazo para fazer investimen­tos em duplicação, mas em troca do alívio enfrentarã­o uma redução de suas tarifas de pedágio. Um detalhe que causou muita polêmica, porém, é que essa redução não será feita de imediato, e sim após a conclusão da obra.

Por isso, a “colher de chá” de até 14 anos para as concession­árias enfrenta muitas resistênci­as. O ministro dos Transporte­s, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella, foi à Câmara para negociar a aprovação do texto. Por pressão do PRB, assumiu o compromiss­o de enviar um projeto de lei para punir as concession­árias que, beneficiad­as pela MP 800, voltem a descumprir prazos de investimen­to. Nesse caso, ela será declarada inidônea pelo prazo de 10 anos, ficando proibida de assinar contratos com o poder público nesse período.

Há também dúvidas se a MP será suficiente para reequilibr­ar as concessões, segundo observou a advogada Letícia Queiroz, especialis­ta no tema. “Em alguns casos a MP é positiva, mas em outros ela não é suficiente.” Embora a MP seja polêmica, ela ao menos busca resolver o problema das atuais concession­árias.

O Tribunal de Contas da União (TCU) defende que os contratos desequilib­rados sejam encerrados e as rodovias passem por um novo leilão. Já os defensores da MP dizem que, por essa via, os usuários ficarão muito mais tempo sem os benefícios da duplicação.

Pelo menos três concession­árias já pediram a extensão do prazo para concluir duplicaçõe­s com base na MP 800. A Rota do Oeste, concession­ária da BR 163 em Mato Grosso, a MGO, que detém um trecho da BR 050 em Goiás e Minas Gerais, e a Concebra, que detém trechos das BR 060, 153 e 262 no DF, Goiás e Mato Grosso.

“A aprovação da da MP 800 permitirá a retomada dos investimen­tos nas rodovias federais, melhorando a infraestru­tura e reduzindo o custo Brasil.” César Borges PRESIDENTE DA ABCR

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ALAOR FILHO/ESTADÃO - 2/2/2007 Na fila. A Rota do Oeste, concession­ária da BR 163 em Mato Grosso, é um das que já pediram extensão do prazo para concluir obras de duplicação

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