O Estado de S. Paulo

Um terço do Brasil está fora da internet

Segundo IBGE, 63,4 milhões estão offline; falta de conhecimen­to é principal motivo

- Daniela Amorim/ RIO Mônica Bernardes/RECIFE ESPECIAL PARA O ESTADO

A diarista Maria das Graças Silva, de 43 anos, mora na região central do Recife, mas ainda depende de um velho rádio de pilha e um celular prépago, que só recebe R$ 15 em créditos a cada três ou quatro meses, para se comunicar. “Tenho vizinhos que têm internet, mas isso não é para mim”, diz ela. “Se não tiver dinheiro para comprar comida, fico com fome. É uma questão de prioridade.” Maria das Graças é um dos 63,4 milhões de brasileiro­s que não utilizavam a internet em 2016, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), como parte da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios Contínua.

Segundo o levantamen­to, que traz dados sobre acesso a internet, celular e TV referentes a 2016, 35,3% da população com 10 anos ou mais de idade não utilizava internet no período analisado no Brasil. Entre as principais razões estão a falta de conhecimen­to (37,8%), de interesse (37,6%) ou por considerar o serviço caro (14,3%) – para o IBGE, o baixo nível de escolarida­de está na raiz do desconheci­mento e da falta de interesse na internet.

“Nos locais com menos domicílios com acesso à internet, o rendimento é menor e o grau de instrução da população é mais baixo”, afirma Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A pesquisa também revelou que 6,9 milhões de lares do País ainda dependiam do sinal analógico de TV – este também é o caso de Maria das Graças. Fã de novelas, ela conta com a solidaried­ade de amigos e vizinhos para acompanhar os capítulos desde o desligamen­to do sinal analógico na capital pernambuca­na, em julho passado – ela não conseguiu comprar um conversor para sua TV de tubo. “A situação está muito ruim”, diz.

Juventude. Em 2016, o total de conectados somou cerca de 116 milhões de brasileiro­s, o que equivale a 64,7% da população com 10 anos ou mais. Entre os jovens de 18 a 24 anos, essa proporção sobe para 85%. Entre eles está a estudante quilombola Isabela Alves, de 21 anos, que se apaixonou pela internet ao participar de um curso promovido pela prefeitura de Garanhuns (PE).

Sem oferta de conexão de internet fixa em sua comunidade, a saída foi buscar conexão por meio da rede 3G de uma operadora de telefonia celular. “Meu namorado foi morar em outra cidade e é por meio de um aplicativo de mensagens que a gente passa o dia se falando”, diz.

Segundo Azeredo, do IBGE, os brasileiro­s estão usando a internet como uma forma de comunicaçã­o mais barata e alternativ­a às tradiciona­is ligações telefônica­s.

“Com WhatsApp e outros aplicativo­s, fica mais barato você passar uma mensagem para alguém, basta estar num guarda-chuva de Wi-Fi. A pessoa pode estar em outro Estado, em outro país. É mais fácil e isso aproxima as pessoas que estão distantes”, afirmou.

No período analisado pelo IBGE, 138 milhões de brasileiro­s tinham telefone móvel celular para uso pessoal.

Apesar do avanço em relação a anos anteriores, cerca de 22,9% das pessoas com 10 anos ou mais de idade ainda não tinham seu próprio aparelho: 25,9% delas considerav­am o produto muito caro; 22,1% alegaram falta interesse; 20,6% usavam o celular de outra pessoa; e 19,6% afirmaram que não sabiam como usá-lo.

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DANIELA BATISTA/ESTADÃO Acesso. A estudante quilombola Isabela (D) passou a usar internet após participar de curso
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