Receita de PMEs paulistas volta a crescer
Serviço e comércio puxaram expansão de 5,1% em 2017, apesar de indústria ter registrado nova queda
Depois de três anos consecutivos com retração no faturamento, as micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo encerraram 2017 com resultado positivo, apresentando aumento de 5,1% no faturamento real em relação a 2016. O acumulado em 2017 atingiu R$ 635,9 bilhões, com expansão de R$ 30,9 bilhões sobre o ano anterior. Os dados são da pesquisa Indicadores, realizada pelo SebraeSP, obtida com exclusividade pelo Estado
A recuperação foi liderada pelos setores de serviços e comércio. Em serviços, o faturamento real aumentou 6,4% e no comércio, 5,6%. A indústria, no entanto, registrou recuo de 0,7%. “Esta queda na indústria se explica mais por fatores estruturais do que pelo ambiente macroeconômico. Certas cadeias reduziram bastante o número de fornecedores domésticos. É a cadeia global de fornecimento, e isso fez com que a indústria perdesse participação no mercado. As indústrias também estão muito concentradas em setores de baixo valor agregado, como vestuário e acessórios”, diz o doutor em economia e professor da EESP- FGV, Clemens Nunes.
Para o diretor técnico do Sebrae-SP, Ivan Hussni, a recuperação das micro e pequenas indústrias é mais lenta. “Às vezes, é a primeira a entrar e a última a sair da crise. Ela tem processos mais complexos, precisa investir na capacitação de mão de obra e estrutura.”
O presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), Joseph Couri, discorda da avaliação do Sebrae. “Não é verdade que somos o último setor a reagir, porque a indústria vende ou para o comércio ou para outras indústrias. E, se existe um aquecimento, ela cresce com eles. O que estamos assistindo é a um momento de extrema dificuldade e estagnação do quadro econômico. Em uma pesquisa que fizemos internamente, vimos que apenas 4% das indústrias têm capital de giro suficiente (para a operação).”
Nunes diz que os setores de serviços e comércio são menos atingidos pela competição dos importados. “São menos afetados porque oferecem bens não transacionados (que não são comercializados globalmente). Por exemplo, para dar banho no cachorro, muitos procuram o pet shop mais perto de casa”, afirma. “Quando existe aumento no poder de compra, o setor de serviços geralmente acompanha a recuperação. O consumo representa cerca de 70% do conjunto da demanda. Qualquer 1% a mais é um valor grandioso.”
De acordo com Hussni, a leve recuperação da economia e a queda da inflação são alguns dos fatores que proporcionaram a reação. “Outro dado importante foi o resgate das contas inativas do FGTS. E também vivemos um período com a Selic em queda e onze baixas consecutivas em taxas de juros, o que aumenta o poder de compra. E, por consequência, faz a roda do crescimento girar.”
Ainda segundo a pesquisa, o índice de pessoal ocupado fechou 2017 com queda de 0,9%. Porém, houve um aumento da massa salarial de 1,5%. “Muitas empresas reduziram o quadro e demitiram pessoas menos essenciais na operação, mas que recebiam salários mais baixos. Isso faz com que a média salarial aumente”, diz Nunes.
Os micro e pequenos empresários têm expectativas positivas para 2018, mas a pesquisa mostra que pretendem agir com cautela. No entanto, o empresário Manoel Reverte decidiu arriscar mesmo com as ressalvas econômicas e abriu seu segundo negócio em dezembro. Dono da A3 Eletro Comercial, loja de materiais elétricos em operação há 37 anos, Reverte vê sinais de recuperação da economia para micro e pequenas empresas.
“Tive aumento de 7% na receita líquida em relação a 2016”, conta, sem revelar valores. E, mesmo com a crise econômica, não hesitou em planejar a abertura do segundo negócio, chamado Galpão da Luz, cujo foco é o varejo, diferentemente da A3, que fornece para construtoras e instaladoras. “Nos últimos cinco anos, construí o prédio que abriga a nova loja. A intenção era explorar tudo o que na outra empresa eu não fazia.”
O principal motivo para embarcar no projeto, e sair da zona de conforto, foi acompanhar as mudanças de consumo no segmento em que atua. “Nessa nova loja, temos arquitetos e técnicos em construção civil. Estamos preparados para elaborar projetos de iluminação.”