Rainha do pôquer é tema de filme pouco inspirado
Baseado em uma história real, ‘A Grande Jogada’ não tem uma direção animada, mas Jessica Chastain e Idris Elba valem o esforço de assistir
Havia a expectativa de que Jessica Chastain confirmasse a indicação para melhor atriz de drama no Globo de Ouro e ficasse entre as finalistas do Oscar por seu papel em A Grande Jogada. A Academia ignorou-a e, no entanto, em fase de empoderamento feminino, a personagem parecia ter tudo a ver. Molly Bloom não apenas existiu de verdade como construiu uma carreira no mundo predominantemente masculino do pôquer. Mais uma mulher a vencer o patriarcalismo, e com que armas? Molly é bela, sexy, desejável. Joga (é o tema do filme) com o desejo, mas impõe limites. Atrai celebridades de Hollywood para sua jogatina e, quando o FBI a pressiona, resiste. Recusa-se a entregar nomes.
Aaron Sorkin tornou-se conhecido como roteirista de cinema e TV. A Rede Social, The West Wing, The Newsroom. Baseou-se no livro autobiográfico de Molly, que tem um título enorme – Da Elite de Hollywood ao Clube dos Garotos Milionários de Wall Street etc. etc. Mais de um crítico já disse que aqui ele misturou Martin Scorsese (Cassino) com um tributo à “screwball comedy”, fazendo o seu Jejum de Amor, ao beber na fonte do clássico de Howard Hawks, de 1940. Diálogo taco no taco, mulheres de faca na bota. Só que lá, como sempre em Hawks, Rosalind Russell aumenta os perigos do homem (Cary Grant) e aqui, quase 80 anos depois, Jessica, como Molly, depende de Idris Elba. Não é a primeira feminista (em termos) a precisar da ajuda masculina. Mas a Academia não mordeu a isca.
Sorkin escreve bem, filma mal. Não propriamente mal, médio. A personagem, afinal, não é tão interessante, o jogo, o pôquer, às vezes parece mobilizar mais o diretor. Jessica, Elba valem o esforço. Ele é, do ponto de vista masculino, um bom equivalente do erotismo dela. Aliás, por que Elba a defende? Você não perde por esperar. E tem Michael Cera, como Player X, um astro de Hollywood obcecado por jogo. É ótimo e carrega, com outros personagens secundários, o verdadeiro comentário social do filme, sobre a degradação (moral) produzida pela dependência. O resto é glamour.