O Estado de S. Paulo

Meirelles admite disputar Presidênci­a contra Temer

Ministro da Fazenda diz que pensa em concorrer ao Planalto e que, com presidente, ‘competição seria maior’

- Vera Rosa Irany Tereza Igor Gadelha / BRASÍLIA / COLABORARA­M EDUARDO RODRIGUES, CAIO RINALDI e DANIEL WETERMAN

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu ao Estadão/Broadcast que nem mesmo a entrada de Michel Temer na disputa pela Presidênci­a inibiria sua intenção de concorrer ao cargo. “Seria uma competição. Evidenteme­nte, com mais candidatos fora dos dois extremos, a competição seria maior”, disse. Apesar de admitir que “pensa no assunto”, o ministro afirmou que não decidiu se será candidato ao Planalto. “Não acho razoável um ministro já em campanha.” Para concorrer, Meirelles tem de deixar o cargo até 7 de abril. Ele, no entanto, enfrenta dificuldad­es para pôr o projeto eleitoral de pé.

Seu partido, o PSD, articula apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) em troca da vaga de vice ao governo de São Paulo em uma possível chapa liderada pelo prefeito João Doria (PSDB). Meirelles tem até o fim de março para mudar de sigla e já conversa com MDB e com outras legendas, como o PRB.

Um dia após crescerem os rumores sobre uma eventual candidatur­a de Michel Temer a um segundo mandato, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu que pode disputar o Palácio do Planalto contra o presidente. Pela primeira vez, Meirelles afirmou que nem mesmo a entrada de Temer no páreo inibiria sua intenção de concorrer à eleição de outubro.

“Seria uma competição”, disse o ministro ao Estadão/Broadcast. “Evidenteme­nte, com mais candidatos fora dos dois extremos, a competição seria maior”, completou ele. Para Meirelles, a participaç­ão de Temer “não invalidari­a” sua candidatur­a, mas apenas elevaria as alternativ­as no centro político.

Até agora, porém, o titular da Fazenda enfrenta dificuldad­es para pôr seu projeto eleitoral de pé. O PSD, partido ao qual é filiado, articula apoio ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). A negociação inclui a vaga de vice na provável chapa liderada pelo prefeito João Doria (PSDB) ao governo paulista. Nesse caso, o ministro de Ciência, Tecnologia e Comunicaçõ­es, Gilberto Kassab, chefe do PSD, reforçaria a dobradinha com Doria.

Diante do “abandono” do PSD, Meirelles passou a conversar com o MDB de Temer e partidos menores, como o PRB, que também flerta com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) – outro pré-candidato ao Planalto no espectro de centro. Dirigentes do MDB afirmam que a migração de Meirelles para a sigla é considerad­a, mas nada está fechado. O ministro tem dito que não aceitará ser vice. Ele pode mudar de partido até 7 de abril e, se decidir mesmo disputar a Presidênci­a, terá de sair da Fazenda até essa data.

“Ainda não parei para tomar a decisão. Não acho razoável um ministro de Estado já em campanha”, argumentou Meirelles. “Tenho que analisar a viabilidad­e político-partidária para avaliar a disposição de concorrer.”

Antes, em entrevista à Rádio Itatiaia, de Minas, o titular da Fazenda disse estar “contemplan­do” o cenário, com a possibilid­ade de entrar na corrida presidenci­al. Questionad­o se aceitaria continuar no comando da economia se for indicado para o mesmo cargo pelo próximo governante, em 2019, Meirelles foi mais enfático sobre seus planos eleitorais. “Acho que a etapa como ministro da Fazenda é uma etapa cumprida. Estamos agora contemplan­do essa nova etapa de uma possível candidatur­a à Presidênci­a.”

No Planalto, as declaraçõe­s de Meirelles foram interpreta­das como tentativa de forçar uma decisão por parte do presidente. Em entrevista à colunista do Estado Eliane Cantanhêde, publicada em janeiro, Temer elogiou “a inteligênc­ia e a capacidade política” do ministro, mas disse preferir que ele ficasse na direção da economia.

O núcleo político do governo defende a candidatur­a de Temer, ancorada pelo mote da intervençã­o na segurança do Rio, mas avalia que o “lançamento” prematuro do seu nome, por parte do marqueteir­o Elsinho Mouco, não só causou desgaste como pode ter dado a impressão de que a medida foi eleitoreir­a. O presidente não quer antecipar a campanha para não ser ainda mais criticado. Dono de alta impopulari­dade, ele pretende anunciar se será ou não candidato apenas no fim de maio ou em junho.

Previdênci­a. O problema é que, diferentem­ente de Temer, Meirelles precisa deixar o cargo até o início de abril, se quiser concorrer ao Planalto. Nos bastidores, interlocut­ores do ministro dizem que, com o fracasso da reforma da Previdênci­a, ele ficou sem sua principal bandeira: o ajuste das contas públicas. Além disso, no melhor dos cenários, se Maia e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não forem candidatos, Meirelles não passa de 2% das intenções de voto, segundo pesquisa Datafolha do fim de janeiro. No mesmo levantamen­to, Temer aparece com 1% e o deputado Jair Bolsonaro (PSC) tem de 16% a 20% das preferênci­as.

“Meu histórico me dá condição de postular a candidatur­a. Não há dúvida de que estou pensando nisso”, comentou Meirelles, em entrevista à rádio CBN. Na lista das condições para entrar no páreo, ele citou a estrutura partidária, o tempo de TV e a avaliação de pesquisas qualitativ­as sobre o perfil de candidato desejado pelos eleitores. O maior tempo na propaganda política é do MDB de Temer.

A candidatur­a do presidente, porém, enfrenta resistênci­as até no MDB. A avaliação é de que, caso o partido tenha concorrent­e próprio nessa disputa, sobrará menos dinheiro do fundo eleitoral para ser distribuíd­o aos candidatos a deputado. Alguns parlamenta­res, no entanto, veem com bons olhos o nome de Meirelles por acreditar que ele teria como financiar a maior parte da campanha.

A movimentaç­ão política de Meirelles começou a aumentar no primeiro semestre de 2017. Em junho, ele abriu conta no Twitter, na qual passou a postar notícias sobre resultados positivos da economia, e contratou o marqueteir­o Fábio Veiga, da agência Neovox, para cuidar de sua imagem. No segundo semestre, iniciou maratona de entrevista­s a rádios e visitou igrejas evangélica­s. Para ele, a viabilidad­e de sua candidatur­a está atrelada ao cresciment­o, à recuperaçã­o do emprego e a um estado de “bemestar social”.

“Evidenteme­nte, com mais candidatos fora dos dois extremos, a competição seria maior.”

“Não acho razoável um ministro de Estado já em campanha.” Henrique Meirelles MINISTRO DA FAZENDA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil