O Estado de S. Paulo

Vaga formal fica com candidato ‘bom e barato’

Empresas estão em busca de profission­ais ‘bons e baratos’, mostra pesquisa da CNC

- Daniela Amorim Vinícius Neder / RIO

Postos que exigem qualificaç­ão mais baixa continuarã­o a ser preenchido­s por candidatos com melhor nível de escolarida­de em 2018. São os profission­ais “bons e baratos”. É o que mostra estudo da Confederaç­ão Nacional do Comércio.

Depois de três anos de queda, a geração de empregos formais deve voltar a ser positiva no País em 2018. Esse cresciment­o, no entanto, ainda se dará por meio de vagas que exigem uma qualificaç­ão mais baixa – mas que, em geral, são ocupadas por candidatos com nível de escolarida­de maior. As empresas estão em busca de profission­ais ‘bons e baratos’.

É o que mostra um estudo da Confederaç­ão Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), feito a pedido do Estadão/Broadcast. O levantamen­to traça um perfil das vagas geradas no ano passado. As profissões que mais absorveram empregados em 2017 estavam na atividade industrial e nos serviços. E, em geral, foram funções que exigiam pouca qualificaç­ão, como alimentado­r de linha de produção, faxineiro, atendente de lojas e mercados, embalador a mão, auxiliar de escritório e repositor de mercadoria­s.

Os candidatos selecionad­os para essas vagas tinham um perfil bem específico: homens jovens, com até 24 anos de idade, e nível de escolarida­de mais elevado, com pelo menos o ensino médio completo.

“As empresas estão com um poder de barganha enorme para escolher o bom e barato. O bom é o qualificad­o, e o barato é o jovem”, explicou Fabio Bentes, chefe da Divisão Econômica da CNC, responsáve­l pelo levantamen­to.

Carteira Carteira assinada. assinada. Quem conseguiu se reposicion­ar, no entanto, não vê motivos para reclamação. O técnico em mecatrônic­a Rherison Walter Brandão da Silva, de 29 anos, por exemplo, aproveitou a recuperaçã­o da indústria automobilí­stica para retornar ao setor no ano passado. Foi contratado como operador de logística na fábrica da Nissan, em Resende, no lado fluminense do Vale do Paraíba, onde está o polo automotivo do Estado do Rio.

Silva já havia trabalhado, por dois anos, em outra fábrica da região – onde há plantas da PSA Peugeot Citroën e da MAN Latin America. Em 2012, foi demitido, quando a unidade em que trabalhava encerrou o terceiro turno. Desemprega­do, foi obrigado a trancar a faculdade de administra­ção, na Universida­de Estácio de Sá, e procurar trabalho em outra área.

Agora, Silva está otimista na retomada da carreira na indústria. Com o novo emprego, o técnico, que vinha ganhando a vida instalando câmeras de segurança e portões eletrônico­s, destrancou a faculdade e vai se formar no fim deste semestre. O salário na Nissan pesou menos do que a perspectiv­a de crescer na empresa. “Eu ganhava mais, porém, com os benefícios que tenho aqui, acaba que fica a mesma coisa. A questão do futuro influencio­u muito”, disse Silva, que também já está fazendo curso de inglês.

Segundo Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE), é natural que trabalhado­res que foram demitidos durante a crise retornem ao mercado em funções menos qualificad­as ou com salários mais baixos. “É preciso esperar até que a conjuntura econômica esteja mais favorável para conseguir se recolocar da forma que você deseja”, afirmou Azeredo.

Projeções. Nos últimos três anos, a destruição de empregos com carteira assinada no País foi enorme: 1,5 milhão de vagas a menos em 2015, 1,3 milhão em 2016 e 20 mil no ano passado. Para este ano, a CNC estima que o mercado de trabalho formal registre um saldo positivo de cerca de 600 mil vagas. Mas, segundo Bentes, o padrão de 2017, com foco na baixa qualificaç­ão, ainda deverá se manter.

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) também tem perspectiv­as positivas para o ano: estima que sejam criadas aproximada­mente 500 mil vagas com carteira. “Será um ano de recuperaçã­o do emprego formal, mas, possivelme­nte, o aumento será ainda maior nas ocupações informais”, disse Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisado­r do Ibre/FGV.

No ano passado, de acordo com dados do IBGE, a maior parte das vagas de emprego criadas no Brasil foram no mercado informal.

Mão deobra • “As empresas estão com um poder de barganha enorme para escolher o bom e barato. O bom é o qualificad­o, e o barato é o jovem.” Fabio Bentes CHEFE DA DIVISÃO ECONÔMICA DA CNC

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FONTE: CNC, COM DADOS DO CAGED, DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO ALEXANDRE CALIL/NISSAN/DIVULGAÇÃO-15/2/2018 Vaga. Silva foi contratado pela Nissan, que ampliou a equipe da fábrica de Resende (RJ)

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