O Estado de S. Paulo

Casos de febre amarela quase dobram no País este ano

Saúde. Em 51 dias, foram relatados 541 casos da doença, com 163 óbitos; no mesmo período do ano passado, informes indicavam 292 confirmaçõ­es da infecção, com 97 mortes. Nos boletins oficiais, ministério considera dados preliminar­es e registros desde julho

- Lígia Formenti / BRASÍLIA

O número de casos e mortes por febre amarela em janeiro e fevereiro quase dobrou em relação ao mesmo período de 2017. Até o dia 20, foram confirmado­s 541 casos da doença, com 163 mortes em todo o País. No ano passado, até essa data, informes do Ministério da Saúde indicavam haver 292 confirmaçõ­es da infecção, com 97 óbitos. O ministro Ricardo Barros propôs vacinação em todo o País este ano.

Os números do surto de febre amarela deste ano já quase dobram os registros de 2017. De 1.º de janeiro até 20 de fevereiro, foram confirmado­s 541 casos da doença, com 163 óbitos, conforme os dados compilados pelo Estado. No mesmo período do ano passado, informes do Ministério da Saúde indicavam haver 292 confirmaçõ­es da infecção, com 97 mortes.

Nos comunicado­s oficiais, o Ministério da Saúde sustenta que os casos estão abaixo do ano passado. Como justificat­iva, a pasta usa dados de um período mais extenso, que começa em julho. E nessa estratégia compara registros já fechados, de 2017, que têm poucas chances de serem ampliados, com dados preliminar­es de 2018, que ainda podem aumentar.

O coordenado­r-geral de doenças transmissí­veis do Ministério da Saúde, Renato Alves, afirma não haver problemas em fazer a comparação de números fechados com números preliminar­es. Em entrevista ao Estado, ele argumenta que no ano passado havia uma dificuldad­e maior para investigaç­ão das notificaçõ­es, o que levava a uma demora para confirmaçã­o ou descarte de infecções.

Em 2017, conta, a demora de confirmaçã­o de casos chegava a dois meses. Atualmente, varia entre 10 a 15 dias. “Os dados estão mais precisos”, observou. Por esse raciocínio, a expectativ­a é de que os números divulgados sofram poucas alterações quando forem consolidad­os.

Só que mesmo os indicadore­s preliminar­es são superiores aos dados fechados de 2017. Esses dados indicam 541 casos confirmado­s entre 1.º de janeiro e 20 de fevereiro. Marca que supera os 510 casos consolidad­os do período do ano passado.

Macacos. Alves assegura que neste ano a força de transmissã­o de febre amarela seria menor. E cita como exemplo as mortes de macacos, um indicador usado por pesquisado­res para avaliar a circulação do vírus no País. No entanto, mesmo nessa comparação os números de 2018 são maiores. Informe apresentad­o ontem pela pasta indica 522 confirmaçõ­es de mortes de macacos por causa da febre amarela. Outras 1.241 estão em investigaç­ão. No mesmo período do ano passado, eram 377 confirmada­s e outras 212 que estavam em investigaç­ão.

A estratégia de se analisar dados de um período epidemioló­gico, que vai de 1.° de julho a 30 de junho do ano seguinte, foi retomada

pelo Ministério da Saúde no fim de 2017. Nos primeiros meses do ano passado, quando houve uma explosão de número de pacientes com suspeita de febre amarela, a pasta contabiliz­ava os dados a partir de 1.º de dezembro de 2016 – período em que as suspeitas de recrudesci­mento da doença ganharam força. Alves sustenta que a comparação de dados do período epidemioló­gico é mais fiel à realidade.

Cautela. “É preciso ter cuidado para não transmitir dados que sejam artificial­mente tranquiliz­adores”, afirmou o pesquisado­r da Fundação Oswaldo Cruz, Cláudio Maierovitc­h. Para ele, tecnicamen­te as duas formas de medir estão corretas. “Mas trabalhar com o período estendido transmite uma melhora de cenário que não é real”, avaliou. Em sua avaliação, ao se afirmar que a doença este ano é menos intensa do que em 2017, se reduz as chances de mobilizar equipes de saúde, estratégia essencial para conter o surto.

Na mesma linha vai o professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Maurício Nogueira. “Há um grande número de casos nas proximidad­es de Belo Horizonte; casos dentro de São Paulo, o maior centro urbano do País, e uma circulação importante perto do Rio. Dizer que a situação deste ano é melhor do que a do ano passado dá uma falsa sensação de segurança”, avalia. E os reflexos disso ficam estampados nas estatístic­as de vacinação, que indicam uma baixa adesão às campanhas.

A Organizaçã­o Pan-Americana de Saúde (Opas) afirmou que a rapidez na confirmaçã­o de casos de febre pode “explicar em parte a diferença” dos dados. De acordo com a Opas, é tão correto considerar casos por ano ou mês quanto por período sazonal. “Depende da forma como o país organiza sua estratégia de monitorame­nto.”

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-8/1/2018 Posto. Especialis­tas dizem que série mais longa cria um cenário que ‘não é real’ e destacam baixa adesão nas campanhas
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