O Estado de S. Paulo

Lava Jato

48ª fase da operação atinge governo do PSDB no Paraná.

- Julia Affonso Ricardo Brandt ENVIADO ESPECIAL / CURITIBA Luiz Vassallo

A Polícia Federal deflagrou ontem no Paraná a Operação Integração, a 48.ª fase da Lava Jato. A investigaç­ão apura a suspeita de esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em concessão de rodovias federais no Estado. Perícias realizadas pela PF indicaram superfatur­amento de obras e indícios de preços abusivos nos pedágios. Um assessor da Secretaria da Casa Civil da administra­ção Beto Richa (PSDB) foi alvo de mandado de busca e apreensão no Palácio Iguaçu, sede do governo. Richa não é investigad­o na operação.

Além da Casa Civil, foram alvo ontem da operação a concession­ária Econorte, do Grupo Triunfo, agentes do Departamen­to Nacional de Infraestru­tura de Transporte­s (Dnit) e do Departamen­to de Estradas de Rodagem (DER) do Paraná. Ao todo, foram expedidos 50 mandados de busca e apreensão e 6 pedidos de prisão temporária. Primeira operação da Lava Jato em 2018, a Integração alcançou quatro Estados: Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio.

Foram presos temporaria­mente o diretor-geral do DER, Nelson Leal Júnior, o agente do DER do Paraná Oscar Alberto da Silva Gayer, o atual diretorpre­sidente da Econorte, Helio Ogama, o dirigente da empresa Rio Tibagi Leonardo Guerra, o diretor financeiro da Triunfo Participaç­ões, Sandro Antônio de Lima, e o empresário Wellington de Melo Volpato.

O assessor da Casa Civil Carlos Nasser teve pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal, mas negado pelo juiz Sérgio Moro, da 13.ª Vara de Curitiba. No entanto, foram autorizada­s buscas em seu endereço e ele prestou depoimento. Nasser foi afastado do cargo (mais informaçõe­s nesta página).

A força-tarefa da Lava Jato suspeita que as concession­árias do Anel da Integração, as rodovias que ligam as principais cidades do Estado, se valiam do mesmo esquema usado para pagar propinas na Petrobrás com o objetivo de corromper agentes públicos do setor de rodovias.

Operadores. O pedido protocolad­o pela força-tarefa da Lava Jato na Procurador­ia da República tem como base investigaç­ões relacionad­as às atividades de Rodrigo Tacla Duran e Adir Assad, apontados como operadores de propina.

Segundo a PF, a Econorte usou os serviços dos operadores, ambos alvo da Lava Jato em outras operações. Assad está preso e fechou acordo de delação premiada com a Procurador­ia-Geral da República – ainda não homologado –, e Tacla Duran está foragido na Espanha.

“Uma das concession­árias se utilizou dos serviços de Adir Assad e Rodrigo Tacla Duran para operaciona­lizar, ocultar e dissimular valores oriundos de atos de corrupção. Dentre os serviços prestados por estes operadores está a viabilizaç­ão do pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos”, afirmou a Polícia Federal.

O Ministério Público Federal informou ter identifica­do “repasses diretos a empresas que estavam em sociedades” a servidores do DER/PR, do Dnit e da Casa Civil do Estado do Paraná. “Os investigad­ores suspeitam que esses pagamentos eram usados como contrapart­ida por favorecime­ntos conferidos à concession­ária Econorte na execução do contrato de concessão.”

Dados da quebra de sigilo bancário demonstrar­am que, entre 2005 e 2015, a Econorte recebeu R$ 2,3 bilhões de tarifas pagas pelos usuários. Deste valor, R$ 343 milhões foram repassados para uma subsidiári­a integral em contratos de conservaçã­o de rodovias. Da subsidiári­a integral, R$ 110 milhões foram repassados à holding do grupo, que transferiu pelo menos R$ 63 milhões a empresas de fachada ou sociedades cuja prestação de serviços ou entrega de produtos não foi comprovada.

Tarifas. Perícias apontaram superfatur­amento nos valores das obras das concession­árias. Segundo apurações, mesmo existindo determinaç­ão do TCU e um estudo técnico recomendan­do a redução da tarifa em 18%, a empresa investigad­a foi favorecida por dois termos aditivos e um termo de ajuste que aumentaram o valor pago pelo usuário em mais de 25%. Para justificar o aumento, o DER-PR alegava necessidad­e de reequilíbr­io econômico-financeiro dos contratos.

Segundo a Lava Jato, o diretor-geral do DER, Nelson Leal Júnior, um dos que subscrever­am os aditivos com a empresa investigad­a, adquiriu de forma oculta um apartament­o em Balneário Camboriú (SC), no valor de R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 500 mil foram pagos em espécie ou com recursos cuja origem não foi identifica­da.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Buscas. Agentes da PF cumprem mandados em São Paulo durante a 48ª fase da Lava Jato

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