O Estado de S. Paulo

Juízes federais propõem paralisaçã­o

Entidade critica ausência na pauta do STF de ações que tratam do auxílio-moradia nos tribunais estaduais; Corte julga benefício em março

- Amanda Pupo Breno Pires Teo Cury / BRASÍLIA

A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, marcou para 22 de março o julgamento de ações que discutem a legalidade do auxílio-moradia para a magistratu­ra. O agendament­o foi seguido de uma forte reação por parte de juízes federais, que avaliam uma paralisaçã­o em protesto pela possibilid­ade de o benefício ser extinto.

O auxílio funciona como uma espécie de complement­ação salarial para magistrado­s e é pago mesmo para quem possui imóvel próprio. Entre as seis ações a serem julgadas no STF estão aquelas em que o ministro Luiz Fux concedeu liminares em 2014 para estender o auxílio-moradia, no valor de R$ 4.378, a todos os juízes do País.

Posteriorm­ente, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) regulament­ou a concessão de auxílio-moradia aos membros do Ministério Público da União e dos Estados. Fux levou três anos para liberar as ações para julgamento, o que só fez no fim de 2017. Desde então, magistrado­s têm feito pressão pela manutenção do auxílio.

A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) iniciou uma consulta entre seus associados sobre a possibilid­ade de realizar uma paralisaçã­o da categoria. A entidade emitiu uma nota ontem em que critica a ausência na pauta do Supremo das ações que tratam do benefício para juízes estaduais, mas não menciona o tema paralisaçã­o.

“Não basta apenas julgar as ações que tratam do auxílio-moradia, que atingirão apenas os juízes federais, deixando sem solução os diversos pagamentos realizados nos âmbitos dos demais seguimento­s do Judiciário”, diz nota assinada pelo presidente Ajufe, Roberto Veloso.

A associação abriu anteontem uma consulta entre seus integrante­s sobre a possibilid­ade de uma paralisaçã­o no dia 15 de março, uma semana antes do julgamento previsto no Supremo sobre auxílio-moradia.

Procurado, o presidente da Ajufe negou que a entidade tenha feito uma convocação de paralisaçã­o, mas não descartou a possibilid­ade de greve, se for esta a vontade dos associados. Veloso disse ainda que estão sendo discutidas outras formas de manifestaç­ão pela “valorizaçã­o da carreira”, como a leitura de um manifesto no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) no dia 15 de março.

Decano. Também ontem, o decano do Supremo, Celso de Mello, aprovou a decisão de Cármen Lúcia de pautar para março o julgamento de ações que tratam da constituci­onalidade do auxílio-moradia. “Acho que é preciso resolver esta questão. É uma controvérs­ia que vem suscitando uma série de debates”, afirmou o ministro.

Reportagem publicada pelo Estado mostrou que o Fisco deixa de arrecadar R$ 360 milhões ao ano em razão do tratamento tributário dado ao auxílio-moradia e a outros “pendurical­hos” recebidos.

Na manhã de ontem, Cármen Lúcia se reuniu com o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), com a procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, com o deputado Benito Gama (PTB-BA) e com o corregedor nacional de Justiça, João Otávio de Noronha. Entre os temas do encontro estava a questão da transparên­cia de salários no Judiciário.

Após o encontro com a presidente do STF, Maia disse que o projeto de lei que estabelece o teto salarial do funcionali­smo público será votado na Câmara depois que a Suprema Corte decidir sobre o direito de juízes ao auxílio-moradia. A expectativ­a do presidente da Casa é de que o texto seja votado em março.

“Acho que é preciso resolver esta questão

(do auxílio-moradia para juízes). É uma controvérs­ia que vem suscitando uma série de debates.”

Celso de Mello

MINISTRO DO SUPREMO

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-21/2/2018 Análise. A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, marcou para 22 de março julgamento de ações sobre a legalidade do auxílio-moradia para magistratu­ra

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