O Estado de S. Paulo

Auxílio-moradia foi aprovado para barrar greve em 2000

Há 18 anos, magistrado­s ameaçavam paralisaçã­o para cobrar definição do teto salarial, o que resultaria em aumento

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Um acordo entre os chefes dos quatro tribunais superiores do País – STF, STJ, TST e TJM – definiu em fevereiro de 2000 a criação do auxílio-moradia para os juízes federais às vésperas do dia marcado pela categoria para paralisar as atividades como protesto por aumento de salário.

A solução, que beneficiav­a juízes da ativa e aposentado­s, veio por meio de uma liminar concedida pelo ministro Nelson Jobim, do STF, que estabelece­u o valor de R$ 3 mil como teto para o benefício. A medida atendia ao pleito da Associação dos Juízes Federais (Ajufe), que havia ingressado com uma ação em setembro de 1999. Para os magistrado­s, o pagamento do auxílio deveria ter regras semelhante­s às que valiam para os parlamenta­res – que recebiam o dinheiro integralme­nte, sem a obrigação de comprovar gastos com aluguel ou manutenção de imóveis.

Até chegar ao consenso para a solução por meio de uma liminar dentro do próprio Poder, a questão dos vencimento­s dos juízes provocou uma crise interna no Judiciário e outra com os Poderes Executivo e Legislativ­o. O governo Fernando Henrique Cardoso havia feito a oferta de um abono salarial para a categoria, mas o Supremo recusou sem consultar os demais tribunais superiores e a solução foi descartada.

Paralelame­nte, no Congresso, aliados do governos e oposição se uniam para criticar a medida. O presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), atacava o Judiciário e dizia que a Casa não aprovaria qualquer liberação de recurso extra no orçamento para o aumento dos magistrado­s. O político baiano, na época em relação azedada com o aliado FHC, capitaliza­va um sentimento generaliza­do da população contra o aumento para uma categoria já privilegia­da em relação a outros trabalhado­res. O deputado José Genoino, então uma das principais lideranças do PT, dizia que a liminar do auxílio era escandalos­a. Era consenso que a liminar abria um grave precedente, já que outros servidores públicos não tinham aumento havia 5 anos.

No STF, o clima era de constrangi­mento. Dez dos 11 integrante­s da Corte abriram mão do adicional, para não configurar o ato de legislar em causa própria. A indignação e as críticas, no entanto, não foram suficiente­s para barrar a criação do auxílio-moradia, que passaria a ser pago já no mês seguinte e com o tempo provocaria um efeito cascata, sendo estendido a todos os juízes do País. Mesmo foragido da Justiça por corrupção, o juiz Nicolau dos Santos Neto passaria a receber o auxílio como seus colegas.

Alguns dias depois da criação do auxílio-moradia, os juízes receberiam novo aumento salarial, com a aprovação da lei do teto salarial do funcionali­smo.

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Pendurical­ho. Manchete em 28 de fevereiro de 2000

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