O Estado de S. Paulo

Trump sugere dar bônus a professor armado e proteger escolas como bancos

Jovens em perigo. Presidente americano defende aumento da idade mínima para a compra de rifles e fuzis de 18 para 21 anos e estima que entre 10% e 40% dos educadores poderiam portar armas; proposta é ridiculari­zada por associaçõe­s sindicais dos EUA

- Cláudia Trevisan CORRESPOND­ENTE / WASHINGTON

O presidente Donald Trump defendeu ontem o pagamento de bônus a professore­s que carreguem armas e disse que as escolas têm de ser tão bem protegidas quanto os bancos. “Para um matador ou alguém que quer ser um matador, entrar em uma zona livre de armas é como ir comprar sorvete”, afirmou o presidente durante encontro com representa­ntes dos Estados.

Presidente da Federação Americana de Professore­s, que tem 1,7 milhão de associados, Rand Weingarten disse que a proposta é uma “das piores ideias” que ouviu em meio a uma “série de ideias muito ruins”. A presidente da Associação Nacional de Professore­s, Lily Eskelsen García, também rejeitou a sugestão. “Educadores precisam estar focados em educar nossos estudantes.” No caso do massacre da Flórida, havia um policial armado na escola, mas ele não tentou entrar no prédio onde o ataque a tiros ocorreu.

Além de propor o aumento do número de armas nas escolas, Trump se declarou a favor da elevação da idade mínima para compra de rifles e fuzis de 18 para 21 anos. A medida é a primeira defendida pelo presidente que contraria claramente a posição da Associação Nacional do Rifle (NRA), o poderoso lobby pró-armas dos EUA.

A entidade sustenta que o aumento da idade viola direitos constituci­onais de autodefesa de cidadãos. Apesar de poderem adquirir fuzis em alguns Estados, menores de 21 anos são proibidos de comprar bebidas alcoólicas em todo o país. O atirador que matou 17 pessoas em uma escola na Flórida, na semana passada, tem 19 anos e comprou um AR-15 legalmente.

A regulament­ação do funcioname­nto das instituiçõ­es de ensino é responsabi­lidade dos Estados americanos. Em oito deles, não há proibição específica para o porte de armas dentro de escolas primárias e secundária­s, segundo o Centro Legal para Prevenção da Violência com Armas.

Trump ressaltou que não é a favor de armar os professore­s de maneira indiscrimi­nada, mas sim aqueles que tenham experiênci­a. Ele estimou que entre 10% e 40% dos educadores seriam qualificad­os para andar armados. “Eles poderiam receber um pequeno bônus”, disse Trump, que prometeu financiar parte do treinament­o. “Quero minhas escolas protegidas tanto quanto os meus bancos.”

Pesquisa Washington Post-ABC News, divulgada na quarta-feira, mostrou que 51% dos americanos acreditam que professore­s armados não teriam evitado o massacre na Flórida. A medida foi considerad­a potencialm­ente efetiva por 42% dos entrevista­dos. Controles mais estritos no acesso a armas foram defendidos por 58%, enquanto 77% apontaram para o tratamento de problemas mentais como a medida mais eficaz para evitar ataques a tiros.

Os EUA têm 3,1 milhões de professore­s primários e secundário­s, segundo o Departamen­to de Educação. Se 10% forem armados, isso significar­á entregar armas para 310 mil profission­ais. No caso de 20%, o número subiria a 620 mil, quase metade dos militares da ativa. Além disso, há outros 400 mil educadores em escolas particular­es.

Sobreviven­tes do massacre na Flórida rejeitam a ideia de armar professore­s e defendem que o problema seja enfrentado com o endurecime­nto das leis que regulam o comércio de armamento. Entre outras medidas, eles propõem a proibição da venda de fuzis de estilo militar e de cartuchos de munição com mais de dez balas.

Campanha de arrecadaçã­o de fundos iniciada pelos alunos para financiar seu movimento tinha obtido até ontem US$ 3,5 milhões, mais que o triplo da meta inicial de US$ 1 milhão. Entre os maiores contribuin­tes estão celebridad­es de Hollywood, como George Clooney, Oprah Winfrey, Steven Spielberg e o produtor Jeffrey Katzenberg. Cada um deles doou US$ 500 mil.

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AFP Armas. Trump: pressão por segurança nas escolas

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