O Estado de S. Paulo

Dívidas em atraso

Queiroz Galvão renegocia R$10 bi com bancos

- Renée Pereira

Após 14 meses de negociaçõe­s, o processo de reestrutur­ação das dívidas do grupo Queiroz Galvão, que somam R$ 10 bilhões, está entrando na reta final. Até o fim do dia de hoje, a empresa deverá entregar aos credores uma série de documentos assinados com todas as condiciona­ntes negociadas nos últimos meses, com prazos, taxas e cronograma de venda de ativos.

O Estado apurou que as condições gerais já estão pré-aprovadas pelos credores e agora precisam do aval do departamen­to de crédito de cada instituiçã­o. A expectativ­a é que a reestrutur­ação seja fechada em breve, mas ainda podem surgir divergênci­as até a assinatura final do acordo.

A Queiroz Galvão é dona de uma das maiores construtor­as do Brasil, que responde por mais da metade das receitas do grupo. Com o envolvimen­to na Operação Lava Jato e a crise econômica, que derrubou o volume de obras no País, o faturament­o da empreiteir­a despencou e o pagamento das dívidas foi comprometi­do. No ano passado, a construtor­a deixou de pagar R$ 1,1 bilhão de empréstimo­s e títulos vencidos.

Mas, pela estrutura de endividame­nto do grupo, foi necessário fazer uma ampla renegociaç­ão, afirmou o analista da agência de classifica­ção de risco Fitch Ratings, Alexandre Garcia. Segundo fontes, como 70% das dívidas do grupo tinham algum tipo de aval da holding ou da construtor­a, não adiantava reestrutur­ar apenas a dívida da empreiteir­a, pois o default (calote) de qualquer outro negócio levaria à execução de todo o grupo.

A reestrutur­ação inclui a dívida da construtor­a, da área imobiliári­a, do setor elétrico, da siderurgia, do braço de alimentos e do estaleiro. Ficaram de fora a empresa de exploração e produção, a de óleo e gás e a Vital, de coleta de lixo. Além da construtor­a, todas as companhias do grupo, dentro da reestrutur­ação, estão com dívidas vencidas. Mas, devido ao montante de dinheiro envolvido, nenhuma instituiçã­o fez a execução dos vencimento­s. Se isso ocorresse,

a empresa entraria em colapso e ninguém receberia.

Blocos. No total, a renegociaç­ão envolve 14 instituiçõ­es, entre bancos nacionais e estrangeir­os e fundos de investimen­tos. Segundo fontes próximas à reestrutur­ação, a proposta delineada entre as partes prevê três grandes blocos de taxas e prazos. O acordo da maior parte da dívida, que envolve a construtor­a, determina um prazo de carência de dois anos e pagamento da dívida em oito anos.

Outro bloco terá carência de dois anos e prazo de 18 anos para a quitação dos valores e o terceiro, que inclui a divisão imobiliári­a, terá quatro anos de carência e pagamento no fim deste período, sendo possível uma nova renegociaç­ão. Em relação ao cronograma de venda de ativos, a empresa terá até cinco anos para se desfazer de negócios na área de energia e de participaç­ões minoritári­as em concessões. Boa parte desses ativos já está à venda há algum tempo.

Inidônea. As discussões em torno da reestrutur­ação foram tensas, especialme­nte depois que a construtor­a foi considerad­a inidônea pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A empresa já recorreu, mas o risco permanece. A medida pesou bastante entre os credores. Isso porque, se a decisão persistir, a construtor­a – principal geradora de caixa do grupo – não poderá participar de licitação pública e terá dificuldad­e de pagar as dívidas.

Antes mesmo da decisão do TCU, a empreiteir­a já havia pedido dois terços da sua receita e demitido metade do quadro de funcionári­os. As poucas obras que a empresa conquistou no ano passado ainda estão longe de recompor a carteira de projetos de quatro anos atrás.

A empresa e os principais bancos envolvidos na negociação – Bradesco, Itaú e Santander – não quiseram se pronunciar.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 16/5/2017 Negociação complexa. Quase todos os negócios do grupo, como o segmento naval, entraram na reestrutur­ação da dívida
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