O Estado de S. Paulo

Congresso barra medidas com impacto de R$ 32 bi

Propostas do governo Michel Temer que previam aumento de receita ou redução de despesas estão emperradas na Câmara e no Senado; parte dos projetos mexe com benefícios de servidores públicos, como adiamento do reajuste salarial

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Todas as medidas de ajuste fiscal enviadas pelo governo Temer ao Congresso para cortar benefícios (parte deles de servidores e empresas) foram barradas pelos parlamenta­res. É o que o mostra estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Se essas propostas tivessem sido aprovadas por deputados e senadores, o impacto positivo no Orçamento deste ano seria de R$ 31,8 bilhões, entre aumento de receitas e redução de despesas, de acordo com levantamen­to feito pelo ‘Estadão/Broadcast’.

Na lista, estão medidas que afetam diretament­e os servidores, como o adiamento do reajuste dos salários, o aumento da contribuiç­ão previdenci­ária e a redução de benefícios, como ajuda de custo e auxílio-moradia.

Também compõem o pacote o fim da desoneraçã­o da folha de pagamento para 50 setores – proposta que deve ser alterada na Câmara para afetar menos segmentos – e a tributação de fundos exclusivos para investidor­es de alta renda. A reforma da Previdênci­a, por sua vez, produziria economia de R$ 5 bilhões neste ano, mas foi engavetada.

O economista Manoel Pires, responsáve­l pelo levantamen­to, destaca que houve uma predominân­cia, no governo Temer, de medidas que proporcion­am um aumento de receita, com efeito temporário no Orçamento. Os cortes de despesa se deram de forma administra­tiva, sem passar pelo Congresso, como foi o caso do pente-fino no auxílio-doença.

Segundo Pires, as medidas de redução de despesas mais importante­s que foram aprovadas pelo Congresso não atacam efetivamen­te a despesa pública e têm efeito “abstrato”. Um exemplo é o teto de gastos, que limita o cresciment­o das despesas à variação da inflação. O teto deve estourar já em 2019, como apontou a Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI).

“Com o enterro da Previdênci­a, acho que é hora de refletir bastante sobre o que deu certo e o que deu errado”, disse Pires, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

Temer assumiu a Presidênci­a em agosto de 2016 com uma base parlamenta­r robusta, fazendo o mercado acreditar que ele conseguiri­a o ajuste fiscal. No início da semana, em sua maior derrota, o governo desistiu oficialmen­te da reforma da Previdênci­a e tentou compensar a perda com medidas econômicas recicladas.

O lançamento dessa pauta serviu para acirrar os ânimos entre o Planalto e o Congresso, dificultan­do ainda mais as articulaçõ­es. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), fizeram questão de mostrar que quem define a pauta é o Congresso, não o Executivo.

Entre as medidas que integram essa agenda está o fim da desoneraçã­o da folha de pagamento, que deve ser votado nas próximas semanas, mas enfrenta forte resistênci­a de vários setores que fazem pressão para ficarem de fora da alta da tributação. A expectativ­a era de um impacto positivo de R$ 8,8 bilhões com a medida ainda este ano, mas a demora diminui o efeito.

Para o cientista político Murillo de Aragão, sócio da Arko Advice, o “estresse” na relação entre Congresso e Planalto pode atrapalhar o andamento das medidas. Ele acredita, porém, que eventual sucesso na intervençã­o do Rio pode fortalecer Temer.

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