O Estado de S. Paulo

Auditoria detecta má gestão digital de órgãos públicos

Ministério do Trabalho teve a pior nota, enquanto a Receita Federal a melhor avaliação; ferramenta­s foram analisadas de 2014 a 2016

- Idiana Tomazelli /BRASÍLIA

Auditoria do Ministério da Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União (CGU) detectou uma série de fragilidad­es nos serviços públicos digitais oferecidos pelo governo federal. A avaliação de 15 serviços prestados por cinco órgãos distintos mostrou que a gestão ainda é feita sem o devido foco no cidadão. Os técnicos alertam para o risco de prejuízo à população, que não recebe o benefício esperado.

A CGU analisou ferramenta­s digitais oferecidas pelos ministério­s da Educação, da Justiça, do Trabalho, da Saúde e pela Receita Federal. Muitos dos serviços são conhecidos, como o eSocial, o sistema de declaração de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), as plataforma­s do Sisu, Fies, ProUni e o Cartão SUS. Foram analisados também o Empregador Web (usado para solicitar o seguro-desemprego online) e o Homolognet (para homologaçã­o de rescisão de contrato de trabalho).

As ferramenta­s do Ministério do Trabalho foram as que tiveram a pior nota. Isso significa que a pasta não considera como algo “estratégic­o” a área de tecnologia de informação, e a gestão para lançar aprimorame­ntos ou detectar novas demandas ou riscos é precária – o que pode levar a um atendiment­o de menor qualidade.

“Quando não se monitora algo que está sendo executado, há o risco de o cidadão não ter o benefício esperado daquele serviço”, explica o diretor de Auditoria de Governança e Gestão da CGU, Valmir Gomes Dias.

A Receita Federal, por sua vez, foi a que melhor se saiu no relatório de auditoria, principalm­ente porque tem um setor de Tecnologia da Informação (TI) melhor estruturad­o e atuante dentro do órgão. Mesmo assim, também recebeu recomendaç­ões para melhorias.

A auditoria, concluída no fim do ano passado, analisou as ferramenta­s digitais num período de 2014 até o primeiro semestre de 2016. O achado mais grave foi a falta de visão estratégic­a sobre a importânci­a da área de TI nos órgãos, além da ausência de uma política padronizad­a no governo federal para serviços digitais. Há ainda o risco de os órgãos serem incapazes até mesmo de detectar a insatisfaç­ão dos cidadãos, tal a deficiênci­a do monitorame­nto.

“A CGU está certa, temos muito para evoluir”, disse ao Estadão/Broadcast o secretário de Tecnologia da Informação e Comunicaçã­o do Ministério do Planejamen­to, Marcelo Pagotti. A área é uma das que coordena a Estratégia de Governança Digital (EGD) do governo federal.

A própria controlado­ria reconhece que, desde o último semestre de 2016, já houve avanços no segmento de serviços públicos digitais. É esse desenvolvi­mento que o governo pretende mostrar na próxima fiscalizaç­ão, que já está sendo planejada pelos auditores.

“Já detectamos preocupaçã­o dos ministério­s em apresentar soluções. Vamos acompanhar firmemente essa evolução, porque uma diretriz fundamenta­l para a CGU é avaliar qualidade do gasto público”, afirma Dias.

Um desses avanços, segundo Pagotti, é a maior integração de algumas bases de dados do governo federal, o que “desonera” o cidadão na hora de solicitar serviços como o passaporte, por exemplo. Desde dezembro, alguns postos da Polícia Federal que emitem o documento já dispensam o usuário de comprovar informaçõe­s prestadas pelo próprio governo, como quitação eleitoral e certificad­o de reservista militar.

O governo também trabalha para ampliar o compartilh­amento de informaçõe­s entre os órgãos públicos, com dados biográfico­s e, futurament­e, biométrico­s. A intenção é ter um “cadastro de ouro” de cada cidadão, com atualizaçã­o automatiza­da, para evitar fraudes na concessão de benefícios e até mesmo situações como a de aposentado­s que precisam, comprovar fisicament­e num posto de atendiment­o que estão vivos. Foi por não fazer a chamada “prova de vida” que o presidente Michel Temer ficou dois meses sem receber a aposentado­ria de procurador do Estado de São Paulo. Por enquanto, a negociação é para ter acesso aos bancos de dados da Receita e do INSS, considerad­os mais completos.

Hoje a gestão é descentral­izada, mas os órgãos têm necessidad­e de se ajudar compartilh­andoinform­ações , diz Pagotti. Em atendiment­o à recomendaç­ão da CGU, ele conta que o governo discute criar uma unidade responsáve­l pelas estratégia­s de TI no governo.

Trabalho. Com a pior nota, o Ministério do Trabalho ainda tem o agravante das constantes mudanças na estrutura do órgão, que se fundiu à Previdênci­a e depois sofreu nova cisão. Há ainda rotativida­de de gestores na área de TI, o que impede a execução consistent­e do planejamen­to – cada novo gestor estabelece novas prioridade­s.

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