O Estado de S. Paulo

Macron defende acordo UE-Mercosul

Para presidente da França, sindicatos que acusam os países sul-americanos de prejudicar o mercado francês de carne bovina são ‘hipócritas’

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Frente a mil agricultor­es convidados ao Palácio do Eliseu, o presidente da França, Emmanuel Macron, fez ontem seu mais forte pronunciam­ento em defesa de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Discursand­o a uma plateia hostil a qualquer negociação que resulte em abertura ao mercado de carnes sul-americanas, o chefe de Estado francês criticou sindicatos e entidades setoriais que atribuem as dificuldad­es dos produtores de carne bovina ao tratado – que nem sequer foi assinado. Segundo Macron, a abertura do mercado vai acontecer, mas “não haverá carne produzida com hormônios” no país.

Os agricultor­es e pecuarista­s foram recebidos no salão nobre do palácio presidenci­al em um sinal de prestígio do setor e da aproximaçã­o que seu governo pretende com os produtores rurais, na véspera da abertura do Salão da Agricultur­a de Paris, o maior evento do setor na França. Já o objetivo dos trabalhado­res era obter garantias contra a suposta “invasão” da carne brasileira e argentina na Europa após o acordo UE-Mercosul. Os produtores também voltaram a reclamar que os criadores da América do Sul não respeitam as normas sanitárias e ambientais europeias, e por isso seu custo de produção é mais baixo.

Hipocrisia. De acordo com Macron, o setor é marcado pelo que chamou de “hipocrisia” de líderes que pedem a abertura dos mercados estrangeir­os, como a Turquia, a China e o Japão, mas não aceitam a abertura na Europa. Macron afirmou que o problema do setor bovino na França é o fato de que 70% da carne bovina consumida por consumidor­es privados não é de origem francesa.

Em comunicado, a Federação Nacional dos Sindicatos de Produtores Agrícolas reclamou ainda do que considerou a incoerênci­a do governo. “Como poderemos promover o engajament­o na transição ambiental na França, com segurança sanitária irrepreens­ível e ao mesmo tempo autorizar importaçõe­s de produtos cujos métodos de produção são proibidos na França?”, questionou o sindicato.

Em compensaçã­o à abertura dos mercados, Macron prometeu um plano de investimen­tos da ordem de ¤ 5 bilhões para a agricultur­a do país, entre medidas em favor da produtivid­ade, da economia de energia e de saúde e bem-estar dos trabalhado­res do campo. Outra medida será a concessão de crédito de ¤ 1 bilhão a jovens agricultor­es e a proibição de compra de terras agrícolas por estrangeir­os.

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ETIENNE LAURENT/REUTERS Ênfase. Macron fez seu mais forte pronunciam­ento

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