Macron defende acordo UE-Mercosul
Para presidente da França, sindicatos que acusam os países sul-americanos de prejudicar o mercado francês de carne bovina são ‘hipócritas’
Frente a mil agricultores convidados ao Palácio do Eliseu, o presidente da França, Emmanuel Macron, fez ontem seu mais forte pronunciamento em defesa de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul. Discursando a uma plateia hostil a qualquer negociação que resulte em abertura ao mercado de carnes sul-americanas, o chefe de Estado francês criticou sindicatos e entidades setoriais que atribuem as dificuldades dos produtores de carne bovina ao tratado – que nem sequer foi assinado. Segundo Macron, a abertura do mercado vai acontecer, mas “não haverá carne produzida com hormônios” no país.
Os agricultores e pecuaristas foram recebidos no salão nobre do palácio presidencial em um sinal de prestígio do setor e da aproximação que seu governo pretende com os produtores rurais, na véspera da abertura do Salão da Agricultura de Paris, o maior evento do setor na França. Já o objetivo dos trabalhadores era obter garantias contra a suposta “invasão” da carne brasileira e argentina na Europa após o acordo UE-Mercosul. Os produtores também voltaram a reclamar que os criadores da América do Sul não respeitam as normas sanitárias e ambientais europeias, e por isso seu custo de produção é mais baixo.
Hipocrisia. De acordo com Macron, o setor é marcado pelo que chamou de “hipocrisia” de líderes que pedem a abertura dos mercados estrangeiros, como a Turquia, a China e o Japão, mas não aceitam a abertura na Europa. Macron afirmou que o problema do setor bovino na França é o fato de que 70% da carne bovina consumida por consumidores privados não é de origem francesa.
Em comunicado, a Federação Nacional dos Sindicatos de Produtores Agrícolas reclamou ainda do que considerou a incoerência do governo. “Como poderemos promover o engajamento na transição ambiental na França, com segurança sanitária irrepreensível e ao mesmo tempo autorizar importações de produtos cujos métodos de produção são proibidos na França?”, questionou o sindicato.
Em compensação à abertura dos mercados, Macron prometeu um plano de investimentos da ordem de ¤ 5 bilhões para a agricultura do país, entre medidas em favor da produtividade, da economia de energia e de saúde e bem-estar dos trabalhadores do campo. Outra medida será a concessão de crédito de ¤ 1 bilhão a jovens agricultores e a proibição de compra de terras agrícolas por estrangeiros.