O Estado de S. Paulo

Setor automotivo

Carro elétrico é exigência política, diz líder da PSA.

- Cleide Silva COLABOROU ANDRÉ ÍTALO ROCHA

O processo de eletrifica­ção dos automóveis em andamento em vários países, especialme­nte os europeus, pode colocar em risco a sobrevivên­cia de empresas do setor. A preocupaçã­o é do presidente mundial do grupo PSA Peugeot Citroën, Carlos Tavares, para quem a urgência em mudar a forma de abastecime­nto é uma exigência “política”, que vem de governos, e não do setor automobilí­stico.

“O custo dessa transição é enorme e quem não cumprir as etapas até 2030 receberá multas exorbitant­es, o que poderá matar a empresa”, diz o executivo português. Há quatro anos ele assumiu o comando da PSA, grupo que esteve à beira da falência em 2012, voltou a ser lucrativo e comprou da General Motors, no ano passado, a fabricante europeia Opel.

Tavares esteve esta semana no Brasil, em visita à fábrica em Porto Real (RJ) e falou a um grupo de jornalista­s sobre suas preocupaçõ­es com as mudanças que o setor automotivo enfrenta nesse momento em que a maioria das montadoras estabelece­u prazos para priorizar modelos elétricos e híbridos em substituiç­ão aos movidos a motores a combustão.

Ele reclama que não há debate aberto sobre como será gerada a energia – se vier do carvão, por exemplo, o processo gera poluentes. “Não se fala sobre as emissões das fábricas de baterias e o processo de reciclagem dessas baterias”, acrescenta o executivo, que também tem dúvidas sobre a capacidade de geração de energia para abastecer toda a nova frota, sobre os custos dessa energia e a infraestru­tura para abastecime­nto.

A indústria automobilí­stica emprega na Europa 12,6 milhões de trabalhado­res, informa Tavares, que também preside a Acea, associação das montadoras europeias. A entidade é outra crítica da forma como legislador­es do Parlamento Europeu estão impondo as regras para reduzir emissões. O movimento se intensific­ou após o escândalo do “diesel gate”, envolvendo manipulaçã­o de testes para encobrir emissões de carros a diesel.

O presidente da Volkswagen na América do Sul e Brasil, Pablo Di Si, ressalta que, nos mercados mais avançados, a venda de carros elétricos é suportada por subsídios governamen­tais que não poderão ser mantidos por muito tempo. Ele defende, contudo, a eletrifica­ção no longo prazo pois será a base para os carros autônomos.

Lançamento. Apesar das críticas, a PSA se prepara para lançar modelos 100% elétricos em 2019 e afirma que terá versões elétricas ou híbridas de toda sua gama de produtos até 2025. “Optamos por desenvolve­r tecnologia própria e faremos vários componente­s próprios”, diz o executivo, que não revelou investimen­tos.

Outra justificat­iva para a corrida ao carro elétrico, diz Tavares, é o receio das companhias europeias em perder espaço para a China, que já declarou que pretende liderar o processo global de eletrifica­ção. “Ou nos adaptamos, ou morremos.”

O Brasil, de certa forma, está mais distante dessa discussão. “O carro flex é um fator positivo pois já permite avanços”, diz Tavares, se referindo às exigências de redução de CO2 previstas na Cop-21, a conferênci­a sobre mudanças climáticas. “Os objetivos impostos na Europa são mais severos que os da Cop21”, ressalta./

Opiniões • “O custo dessa transição é enorme e quem não cumprir as etapas até 2030 receberá multas exorbitant­es.”

“Não se fala sobre as emissões das fábricas de baterias.” Carlos Tavares PRESIDENTE GLOBAL DA PSA

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MONIQUE DUPONT SAGORIN - 23/2/2016 Elétricos. Para Tavares, presidente global do grupo, é necessário debater o impacto ambiental do descarte de baterias

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