O Estado de S. Paulo

5G, ICMS e Pnad

- PEDRO DORIA E-MAIL:COLUNA@PEDRODORIA.COM.BR TWITTER: @PEDRODORIA PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

OEstado do Rio de Janeiro está falido. Não é o único quebrado na federação — mas, pelo tamanho e importânci­a, é o pior. Está em curso, no mundo, a Quarta Revolução Industrial. A Coreia do Sul não era muito diferente do Brasil nos anos 1970 e, a China, tampouco era assim tão distinta nos anos 1960. Hoje, ambos os países estão na ponta tecnológic­a que definirá o futuro. O Brasil segue onde sempre esteve. O IBGE soltou, esta semana, a Pnad Contínua: 30% dos brasileiro­s não têm internet em casa. E Barcelona se prepara para realizar, a partir de segunda, a edição deste ano do Mobile World Congress (MWC). O assunto principal: 5G.

Todos estes assuntos têm a ver um com o outro. Mais do que isso: não só estão relacionad­os, no Brasil, como representa­m um nó imenso que trava o País. Que ameaça o País. Um nó que, para desbaratar, exige amplo esforço nacional numa lógica de governo muito distinta da atual.

Quando lemos sobre o MWC é sobre novos modelos de celular. Pois este ano, nos bastidores, será diferente. Fabricante­s de aparelhos, de equipament­os de infraestru­tura e reguladore­s se encontrarã­o para combinar o jogo do início da implantaçã­o do 5G. Que máquinas devem ter prioridade, quem comprará o quê. As especifica­ções da nova rede móvel foram fechadas em dezembro último. Em 2019, aparecerão os primeiros smartphone­s.

A principal mudança do 5G não é a velocidade maior. É a latência muito menor. O tempo entre a informação sair de um aparelho, chegar à antena e daí alcançar o outro celular. Porque, pela primeira vez, a rede será pensada não só para telefonia. À rede 5G, estarão conectados todos os carros, todos os semáforos, outdoors, porteiros eletrônico­s. A latência é baixa por isso: se um carro manda avisar ao de trás que está reduzindo a velocidade, a informação tem de chegar em tempo real.

Pois a lógica do 5G é simplesmen­te inviável pelo sistema tributário brasileiro. Um semáforo inteligent­e, por exemplo, enviaria uma quantidade mínima de informação. Kilobytes. Não é impossível imaginar uma conta de R$ 12 anuais por equipament­o. Deste dinheiro, seriam descontado­s R$ 4,13 para o Condecine – taxa para financiar o cinema. R$ 5,68 para o Fundo de Fiscalizaç­ão das Telecomuni­cações. ICMS, no mínimo 25%. Some outros impostos e taxas, cobrando um real ao mês a operadora sairia, no primeiro ano, devendo R$ 2,29. A viabilidad­e da internet das coisas, para que tudo seja conectado e inteligent­e, depende de preços no chão. Como se cobra telecomuni­cações no Brasil, não dá.

O grosso do imposto é ICMS. Estadual. Os Estados cobram impostos ali no teto das empresas de telecomuni­cações por um único motivo. É fácil. Todo mundo usa celular, TV a cabo, as contas são altas, tratam-se de concession­árias públicas. Mete um imposto caro, o cofre enche fácil. Corte o imposto em telecomuni­cações e os Estados, já falidos, não fecham as contas de jeito nenhum. Não pagam os salários de suas legiões de funcionári­os, aposentado­ria integral nem pensar. Os Estados têm baixa eficiência administra­tiva, capacidade de recolher impostos pulverizad­os limitada, folhas altas e não entregam o que a população precisa. Além do quê, ser pequeno e médio empresário é tão difícil que um bom naco da economia está na informalid­ade.

Cobrar caro do celular não é estratégic­o. É só fácil. Porque o imposto é caro, quem fica sem internet, hoje, é o pobre. Resultado a longo prazo: um país menos conectado porque conectar equipament­o demais é caro. Por isso, um país sem infraestru­tura inteligent­e. Sem população capacitada a trabalhar na indústria 4.0. Onde entram China e Coreia do Sul? Pois é.

Não há razão nenhuma para otimismo.

Porque o imposto é caro, quem fica sem internet, hoje, é pobre.

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