O Estado de S. Paulo

Plano de segurança lançado há um ano não saiu do papel

Para Ministério da Justiça, houve avanços no setor, mas proposta deve passar por revisão e aperfeiçoa­mento

- Marco Antônio Carvalho

No momento em que o governo federal promove uma intervençã­o no Rio de Janeiro e anuncia a criação do Ministério da Segurança, o primeiro plano oficial para o setor completa um ano com poucos resultados visíveis. Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Estado checou a evolução de dez das principais metas do Plano Nacional de Segurança, lançado em janeiro de 2017. Destas, o governo diz ter cumprido

uma – a produção de estatístic­as para medir ações da polícia judiciária. A maioria das propostas, como a redução de 15% na lotação dos presídios, praticamen­te não saiu do papel. Outras metas foram abandonada­s ou reformulad­as. O Ministério da Justiça vê avanços, mas fala em revisão e aperfeiçoa­mento do plano. “Quando foi lançado, já parecia uma colcha de retalhos com baixas chances de execução”, diz Sérgio Adorno, coordenado­r científico do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP.

No momento em que o governo federal faz uma intervençã­o no Rio e anuncia um Ministério da Segurança, o primeiro plano para a área completa um ano, com poucos resultados visíveis. Lançado em janeiro de 2017, como resposta a uma série de chacinas no sistema penitenciá­rio, o Plano Nacional de Segurança tinha metas ambiciosas, como a redução de 15% na superlotaç­ão dos presídios, que estão longe de serem cumpridas. Sobre outras não há dados oficiais. E há as que foram abandonada­s ou reformulad­as. O Ministério da Justiça vê avanços, mas fala em revisão e aperfeiçoa­mento.

Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Estado acompanhou dez das mais importante­s metas traçadas pelo então ministro Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Dessas, o governo diz ter cumprido uma, ao produzir estatístic­a nacional para mensurar a atividade da polícia judiciária. Mas, como não há divulgação, não foi possível avaliá-la.

De seis metas não cumpridas, três sequer saíram do papel ou foram abandonada­s, e três começaram a ser executadas, mas estão longe do que foi proposto originalme­nte. Sobre outras três, não há dados oficiais que permitam o acompanham­ento do cumpriment­o. Em pelo menos uma – a redução na superlotaç­ão –, a meta é considerad­a improvável de ter sido atingida, já que apenas 4% da verba liberada aos Estados pelo Fundo Penitenciá­rio foi gasta.

Rio. Entre os objetivos está o que previa a chegada do Plano a todas as capitais até o fim de 2017, com a redução de 7,5% dos homicídios. Houve resultados em Porto Alegre e Aracaju. Já no Rio e em Natal, o índice cresceu. Em Natal, o número de mortos passou de 581 para 622 entre 2016 e 2017, e no Rio Grande do Norte os registros saltaram 20%. A promessa era de que, após chegar às capitais, o plano beneficiar­ia as regiões metropolit­anas dessas cidades em 2018.

No Rio, o Plano só chegou em agosto, mas em 2017 o número de homicídios chegou a 6.731, ante os 6.262 do ano anterior. A taxa de mortes violentas por 100 mil habitantes chegou a 40, a maior desde 2009.

Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Isabel Figueiredo critica a falta de direção na política para a área. “Nenhum vento ajuda o barco que não sabe para onde quer ir. Fica à deriva. O governo propõe respostas imediatas para crises que são, na verdade, não respostas. Passou da hora de se pensar apenas em sensação de segurança e discutir Segurança propriamen­te dita.” Para ela, vários Estados enfrentam grave situação, e não apenas o Rio, alvo de intervençã­o federal. “Supondo que dê tudo certo no Rio, ainda tem o Ceará, o Rio Grande do Norte. Está na hora de discutir o desenho constituci­onal da Segurança, sua estrutura e seu financiame­nto. O que se continua fazendo é responder a crises.”

Só no papel. Três metas ficaram no papel ou foram abandonada­s. O Plano previa, por exemplo, a implementa­ção de 27 núcleos de inteligênc­ia, o que não aconteceu. A pasta diz que está estruturan­do cinco centros regionais para, depois, avaliar a necessidad­e de núcleos estaduais. O governo desistiu também de revisar a matriz nacional curricular das academias de polícia. “Temos a informar que esta ação surgiu a pedidos dos diretores das Academias de Polícia Civil, porém, após contato com a área, verificou-se que a Matriz Nacional Curricular existente ainda é atual”, afirmou ao Estado Ana Paula Garutti, diretora substituta do Departamen­to de Ensino, Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvi­mento de Pessoal, da Secretaria Nacional de Segurança.

Coordenado­r científico do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universida­de de São Paulo (USP) e pesquisado­r de políticas nacionais na área, Sérgio Adorno diz que o plano “não foi efetivamen­te executado”. “Quando foi lançado, já parecia uma colcha de retalhos com baixas chances de ser executado.”

Ele lembra que analisou os planos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. “Eram projetos fortes, claros e orgânicos, com linhas de ação definidas. Eles avaliavam iniciativa­s para a redução da violência, de homicídios, e tinham políticas sociais, com promoção de garantias e direitos, além de reformas da polícia e no sistema penitenciá­rio.”

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