O Estado de S. Paulo

Após sanções, Coreia do Norte quer diálogo

Abertura. Horas antes de admitir a possibilid­ade de negociar, Pyongyang classifico­u os embargos a empresas que facilitam o comércio norte-coreano de ‘atos de guerra’; Departamen­to de Estado americano condiciona conversa à desnuclear­ização

- PYEONGCHAN­G, COREIA DO SUL

Três dias depois de os Estados Unidos aplicarem severas sanções à Coreia do Norte, o país asiático declarou ontem estar disposto a dialogar com os americanos. O recado foi transmitid­o pelo general norte-coreano Kim Yong-chol, líder da delegação do país na cerimônia de encerramen­to dos Jogos Olímpicos de Pyeongchan­g, na Coreia do Sul.

O Departamen­to de Estado americano respondeu à sinalizaçã­o norte-coreana e afirmou que qualquer diálogo está vinculado a uma desnuclear­ização.

Horas antes, a Coreia do Norte havia classifica­do como “ato de guerra” o novo pacote de sanções imposto pelos EUA na sexta-feira contra empresas marítimas que facilitam transporte de produtos para os norte-coreanos. Pyongyang ameaçou retaliar os EUA se o país “tiver a ousadia de enfrentar a Coreia do Norte de forma severa”.

Ontem, Kim Yong-chol, um dos militares mais leais ao líder norte-coreano Kim Jong-un, chegou ao país vizinho para a cerimônia de encerramen­to dos Jogos e para um encontro com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in. “Moon enfatizou que o diálogo entre EUA e Coreia do Norte deve ocorrer o mais rápido possível”, disse o porta-voz da Presidênci­a, Kim Eui-kyeom.“A delegação do Norte transmitiu o desejo do líder Kim Jong-un.”

Apesar do cancelamen­to em cima da hora de um encontro entre o vice-presidente americano, Mike Pence, e as principais autoridade­s de Pyongyang, na sexta-feira, o Washington Post informou ontem que negociador­es dos dois países podem ter conversado.

A americana Allison Hooker, uma veterana funcionári­a do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, especialis­ta em Coreia do Norte, acompanhou Ivanka Trump, a líder da delegação americana na Olimpíada.

A Coreia do Norte enviou aos Jogos Choe Kang-il, o principal negociador para assuntos relacionad­os aos EUA no ministério das Relações Exteriores. O Washington Post afirma que os dois se reuniram secretamen­te durante a cerimônia de encerramen­to, ontem. O objetivo seria pavimentar encontros futuros. Os dois já negociaram juntos em outras ocasiões.

O futuro das negociaçõe­s. Analistas ouvidos pela imprensa americana afirmam que diálogos de alto nível entre EUA e Pyongyang são difíceis, porque ambos os lados permanecem inflexívei­s em pontos-chave de um pré-acordo. A Coreia do Norte exige que os EUA interrompa­m seus exercícios militares com a Coreia do Sul, mas um destes treinament­os vai ocorrer em abril. Pyongyang também quer continuar com seu programa nuclear, mas os EUA exigem seu desmantela­mento.

Outro problema é a resiliênci­a norte-coreana. Há 33 anos, o regime de Kim brinca de gato e rato com o Ocidente, às vezes negociando, às vezes rejeitando as conversas.

“Hoje há um impasse diplomátic­o sem fim à vista. Pior: é mais provável que esta abertura possa descarrila­r facilmente se a Coreia do Norte testar algum míssil, ou se os EUA e a Coreia do Sul realizarem novos exercícios militares”, afirmou ao site Vox Mira Rapp-Hooper, professora de estudos asiáticos na Universida­de de Yale. “Na situação atual, a diplomacia ainda vale a pena, mas só para reduzir o risco de erro de cálculo que pode provocar uma guerra regional.”

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DAMIR SAGOLJ/REUTERS Encerramen­to. Atletas das duas Coreias na cerimônia final da Olimpíada de Pyeongchan­g

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