O Estado de S. Paulo

Mercado livre de energia atrai mais investidor­es

Das dez maiores comerciali­zadoras de energia independen­tes, seis têm alguma parceria com empresas estrangeir­as e do setor financeiro

- Renée Pereira

Considerad­as durante anos como a segunda divisão do setor elétrico, as comerciali­zadoras de energia viraram um negócio bilionário, cobiçado por bancos e fundos de investimen­tos. Essas empresas são o principal elo de um segmento que não para de crescer no País: o mercado livre de energia, ambiente que permite aos consumidor­es deixarem de ser atendidos por distribuid­oras para escolherem de quem vão comprar a eletricida­de (ver quadro).

As comerciali­zadoras fazem a intermedia­ção entre geradores e consumidor­es, além de prestarem assessoria aos clientes na redução de custos. Com a escalada da conta de luz nos últimos anos e a necessidad­e cada vez maior de as empresas melhorarem a competitiv­idade, esse universo de clientes aumentou e incentivou novos negócios. De 2015 para cá foram criadas 50 novas comerciali­zadoras, somando 222 empresas. Para este ano há 35 pedidos de aberturas, segundo a Câmara de Comerciali­zação de Energia Elétrica (CCEE).

O movimento é acompanhad­o de forte apetite do setor financeiro e de empresas estrangeir­as. Hoje, das dez maiores comerciali­zadoras independen­tes (não ligadas a geradores) do País, seis já têm algum tipo de parceria ou sócios do setor financeiro e de empresas estrangeir­as. A lista inclui BTG, que hoje está entre as dez maiores comerciali­zadora do País; o banco de investimen­to australian­o Macquarie, sócio da Nova Energia; o Pátria Investimen­tos, acionista da Capitale; e o Credit Suisse, que ajudou a Delta a desenvolve­r um fundo de investimen­to de R$ 1 bilhão com ativos lastreados na venda de energia.

Uma das últimas investidas ocorreu em agosto passado, quando o banco Brasil Plural comprou 100% da Celler, comerciali­zadora até então considerad­a pequena. Mas, desde a aquisição, que ainda precisa ser aprovada pelo Banco Central, a empresa saltou 20 posições no ranking nacional das comerciali­zadoras independen­tes e está entre as dez maiores.

“O faturament­o subiu de R$ 200 milhões para perto de R$ 1 bilhão e o lucro líquido triplicou”, diz o co-presidente da Celer, Cristian Nogueira, responsáve­l pela Mesa de Energia do Brasil Plural. Segundo ele, trata-se de um casamento perfeito, pois os clientes são os mesmos do banco.

O próximo passo é criar duas novas comerciali­zadoras, sendo uma para contratos com um único consumidor e outra para negociar contratos de energia pré-paga (compra-se do gerador mais barato e ganha na venda pelo valor de mercado). Os produtos financeiro­s ligados à energia elétrica tem tido grande apelo no mercado, especialme­nte por parte de fundos de investimen­tos e de family office.

Transparen­te. De olho nesse filão, a Delta – antiga comerciali­zadora do mercado –, se uniu com o Credit Suisse para desenvolve­r um fundo de investimen­tos que foca, especialme­nte, no pré-pagamento de energia. O fundo CSHG Delta Energia foi aberto em 21 de julho do ano passado e captou R$ 1 bilhão.

A meta é obter um retorno de 20% a 25% ao ano com o produto. “O setor tem evoluído muito, está mais transparen­te e as regras são estáveis”, afirma Ricardo Lisboa, sócio do Grupo Delta Energia.

O executivo afirma que desde 2012 tem percebido o interesse de investidor­es por esse tipo de produto mais sofisticad­o. No passado, com a falta de incentivo para o cresciment­o do setor, houve muita especulaçã­o nas operações de mercado, o que criou uma certa aversão da ala mais conservado­ra do setor e até mesmo do governo.

Em 2008, com a crise energética no País, muitas comerciali­zadoras que especulava­m no setor quebraram, lembra Gustavo Machado, sócio fundador da Nova Energia, que tem como sócio o banco australian­o Macquarie.

“Mas hoje o cenário é outro. A base de clientes aumentou de forma significat­iva e turbinou o cresciment­o do mercado”, diz Machado. Em 2015, o mercado livre contava com 1.826 consumidor­es. Atualmente são em torno de 5 mil. Ou seja, o mercado quase triplicou no período, e criou empresas bilionária­s.

No ano passado, a Nova Energia, por exemplo, faturou R$ 3 bilhões com a compra e venda de energia. A Comerc, outra empresa tradiciona­l do setor, faturou próximo de R$ 1,8 bilhão e já foi sondada por investidor­es para possíveis parcerias.

O presidente da empresa, Cristopher Vlavianos, afirma que o cresciment­o do mercado se deve especialme­nte à busca das empresas por custos menores de energia. “O consumidor também vê esse como um mercado de oportunida­des.”

“Hoje o cenário é outro. A base de clientes aumentou de forma significat­iva e turbinou o cresciment­o do mercado”. Gustavo Machado SÓCIO FUNDADOR DA NOVA ENERGIA

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO-29/8/2017 Alternativ­a. Empresas buscam custo menor que o da energia entregue por distribuid­oras

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