O Estado de S. Paulo

Vacinação da febre amarela vai às ruas

Agentes de saúde abordam pessoas nas ruas e vacinam até em bares da zona norte

- Paula Felix

Agentes de saúde da Prefeitura de São Paulo percorrem ruas, casas e bares do bairro Pirituba, zona norte da capital, em busca de moradores para a vacinação contra a febre amarela, informa Paula Felix. A cobertura vacinal no município chegou a 17% em janeiro, índice considerad­o baixo pelas autoridade­s estaduais de Saúde.

“Bom dia! Vamos acordar! Vamos tomar a vacina da febre amarela”, grita uma mulher usando um microfone com alto-falante. Ela desce uma rua em Pirituba, na zona norte da capital, atraindo a atenção de moradores. Eles se deparam com agentes de saúde e enfermeira­s transporta­ndo uma caixa de isopor com doses da vacina contra o vírus. É a ação de imunização que está “caçando” casa a casa desde o início do mês pessoas que ainda não foram imunizadas, apesar da campanha.

Na quarta-feira, o Estado acompanhou uma das equipes que está participan­do da ação. As abordagens ocorrem já nas ruas, em lojas e até em bares. Pessoas acamadas e deficiente­s estão entre os pacientes que ainda não procuraram a vacina nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Mas há casos de quem não foi imunizado por não conseguir ir às unidades no horário de funcioname­nto ou porque têm medo de ter alguma reação à vacina.

“Não tomei porque não consegui levar a minha filha na cadeira de rodas. Esperei chegar em casa. Quando tem outras vacinas, sempre tomamos em casa. Estava com muita fila e eu também estava com medo dessa vacina”, contou Sebastiana Cabral de Almeida, de 70 anos, ao lado da filha Janaína, de 35 anos, as primeiras vacinadas.

Com receio, a doméstica Maria Monteiro, de 56 anos, ainda não havia tomado a vacina. “Eu estava com medo de tomar, porque as pessoas estão morrendo. Sem falar que, sempre que eu ia, tinha fila e a vacina acabava.” Com a visita dos agentes, ela, a filha e a nora receberam a dose. O processo é rápido: enquanto o paciente é vacinado, outro agente preenche o comprovant­e de vacinação.

Muitos conhecem os pacientes pelo nome e saem consultand­o se eles se imunizaram. No beco 50 A, uma fila com pouco mais de dez pessoas se formou e se desfez rapidament­e. “Não tinha tomado ainda, porque fiquei com medo. Tenho bronquite e fiquei com medo da reação”, diz a doméstica Romilda Marcelino, de 38 anos. Um homem que estava observando a ação foi abordado em frente a um bar. Lá mesmo, em uma das mesas, ele foi imunizado. Em duas horas, cem doses foram aplicadas.

“Empresas de ônibus, igrejas, supermerca­dos, farmácias, comércios. Todos eles foram procurados e nos ajudaram nesse processo de vacinação com o uso de seus espaços e até fornecendo água e café para as equipes”, diz o supervisor técnico de Saúde de Pirituba, Wagner Fracini. Ele conta que para chamar a atenção dos moradores os agentes também já usaram pandeiro e apito, além do grito.

Cobertura. Coordenado­r regional de Saúde Norte da Secretaria Municipal da Saúde, José Mauro Correa afirma que a cobertura vacinal da região, primeira a ser imunizada na capital, chegou a 75% e a meta é imunizar toda a população da zona norte até o fim de junho. “Estamos pedindo que a população vá às unidades de saúde para fazer a avaliação para saber se pode tomar a vacina. Nosso esforço é para fazer a cobertura vacinal e vamos conseguir vacinar todo o território.”

Correa afirma que houve muita procura no início da campanha, mas que o movimento caiu. Agora, diz, a ação casa a casa realizada pelos agentes está fazendo a diferença. “É um trabalho forte de sedução do funcionári­o, que tem de dar conta do funcioname­nto normal da UBS e da imunização. Eu considero que essa é uma ação que está tendo êxito.”

Desafio. Segundo Marcos Boulos, coordenado­r de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde, campanhas de imunização que têm adultos entre o público-alvo costumam ter problemas com adesão.

“Vacinar adulto é muito difícil, porque as pessoas acham que não vai acontecer nada com elas, mas boa parte das pessoas que morreram por causa da febre amarela não tinha tomado a vacina. Sabemos que a vacina não é uma coisa inócua, mas a doença é muito mais grave do que a vacina.” Boulos diz que a cobertura vacinal no Estado, embora esteja aumentando, ainda pode ser considerad­a baixa (45%). Ele afirma que a ação casa a casa está sendo realizada em todos os municípios do Estado. De acordo com Boulos, o índice na capital é de 17,1% (dados até 29 de janeiro deste ano). “É considerad­o baixo, mas não era uma área de recomendaç­ão. Agora, vai ter de subir.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO
 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ?? Na porta. Equipes em Pirituba conhecem o público-alvo pelo nome e usam megafones para buscar quem não foi vacinado
FELIPE RAU/ESTADÃO Na porta. Equipes em Pirituba conhecem o público-alvo pelo nome e usam megafones para buscar quem não foi vacinado
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Microfone. Ação até longe do posto

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