O Estado de S. Paulo

Implementa­r o que foi prometido não é a preocupaçã­o federal

- Renato Sérgio de Lima É DIRETOR-PRESIDENTE DO FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Apalavra que resume a ação federal na área da segurança pública é diversioni­smo. A intervençã­o federal no Rio é colocada em evidência sem o reconhecim­ento devido de que o Plano Nacional de Segurança fracassou, e surge em meio a outra discussão sobre a criação de um Ministério da Segurança Pública. O governo, então, fica fazendo anúncios sem necessaria­mente se importar em implementa­r o que já foi anunciado.

O plano foi lançado no ano passado em meio a outra crise, a do sistema penitenciá­rio, com massacres em cadeias. As intenções são tiradas da cartola como soluções diferentes, mas na verdade ao menos 70% daquele projeto repetia planos anteriores que já tinham seus defeitos.

O governo também é diversioni­sta ao anunciar uma intervençã­o extrapolan­do as suas responsabi­lidades, ainda que seja direcionad­a a uma região que tem necessidad­e. Mas não dá para entender a razão de isso ocorrer no Rio e não no Rio Grande do Norte, que enfrenta sucessivas crises. A população potiguar merece menos? A desordem e a violência estão em patamares similares. Vários outros Estados apresentam sinais agudos de violência.

A União poderia focar no que lhe cabe: atuar nas fronteiras, na fiscalizaç­ão de armas, coordenar processos, integrar esforços, padronizar informaçõe­s e estatístic­as, determinar protocolos policiais. É uma dimensão de coordenaçã­o do sistema de segurança pública que hoje ela não exerce. Aliás, o Ministério da Justiça é o grande ausente no debate da segurança ao longo dos últimos meses. Não adianta querer fazer papel de polícia. Enquanto isso, as agendas federais necessária­s para a área continuam abertas.

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