O Estado de S. Paulo

Tiroteios no Rio migram da zona norte para a oeste

Em 2017, Complexo do Alemão liderava confrontos; este ano, há mais ocorrência­s na Cidade de Deus, segundo dados de aplicativo

- Fábio Grellet / RIO

O número de tiroteios no Rio de Janeiro, nos dois primeiros meses de 2018, é praticamen­te igual ao registrado no mesmo período de 2017, mas a região da cidade que concentra o maior número de confrontos mudou. Enquanto no ano passado três bairros da zona norte figuravam entre os cinco com mais tiroteios e somavam 65% do total, agora conflitos se tornaram muito mais frequentes na zona oeste, que concentra 70% do total. Dos cinco bairros com mais ocorrência­s, três ficam nessa região, um na zona sul e só um na zona norte.

Os dados são do aplicativo Onde Tem Tiroteio (OTT), que desde 2016 registra os confrontos no Estado do Rio, com a ajuda de mais de 1 milhão de usuários cadastrado­s. Segundo o OTT, de 1.º de janeiro até as 13 horas de 23 de fevereiro foram relatados 795 casos em todo Estado, cinco a menos do que no mesmo período de 2017.

O aplicativo alerta que, durante o carnaval, o número de tiroteios historicam­ente diminui. Mas a principal constataçã­o é de que mudaram de lugar. Palco de disputas entre facções criminosas, o Complexo do Alemão era o bairro com mais tiroteios nos primeiros 54 dias de 2017, com 6,9% de um total de 800.

No mesmo período de 2018 foram registrada­s 19 trocas de tiros (2,4% do total e queda de 65,5% em relação a 2017). A vizinha Penha, outro foco de violência, registrou 25 tiroteios nesse período; em 2018 foi palco de 11, saindo da lista dos dez bairros com mais ocorrência­s.

Outros três bairros da zona norte que figuravam entre os dez com mais tiroteios em 2017 saíram da lista deste ano. Lins de Vasconcelo­s, em terceiro lugar em 2017, com 35, registrou 10 em 2018; Manguinhos, o quarto com mais conflitos, com 27, teve apenas 4 ocorrência­s em 2018; e o complexo da Maré, oitavo em 2017, com 21 tiroteios, registrou 13 em 2018.

Neste ano, a liderança está com a Cidade de Deus, outro palco histórico de conflitos, na zona oeste, com 64 (8% do total de 795). O problema se agravou neste bimestre e um dos dias mais tumultuado­s foi 31 de janeiro. Em uma operação, a polícia matou um acusado de ser o segundo principal chefe do tráfico no bairro, e os confrontos com a PM se estenderam por todo o dia. O trânsito na Linha Amarela, via expressa que margeia a Cidade de Deus, foi interrompi­do e os motoristas tiveram de fugir pela contramão ou abandonar seus veículos.

A Praça Seca, na mesma região, é vice-líder com 46 tiroteios, que se concentram em duas favelas, Bateau Mouche e Chacrinha, ambas dominadas por milicianos que mandam em outras 14 comunidade­s na área.

Em dezembro, dois supostos líderes se desentende­ram e passaram a disputar o domínio das duas favelas. A situação ficou menos tensa depois que um deles foi preso, em 4 de fevereiro.

Rocinha. A Rocinha é o único bairro da zona sul a figurar entre os dez com mais tiroteios. Terceira colocada, a comunidade soma 34 ocorrência­s. Desde setembro, a região sofre com uma disputa entre traficante­s que romperam uma antiga parceria. Em 2017, não havia ocorrido nenhuma troca de tiros até fevereiro – e só dois foram registrado­s até setembro.

Na zona norte, o Jacarezinh­o é o bairro com mais tiroteios em 2018, figurando em quinto lugar, com 24 registros. No mesmo período de 2017 havia registrado 19. Neste ano, as ocorrência­s se tornaram mais frequentes a partir de 12 de janeiro, quando um delegado foi morto dentro da favela.

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JOSE LUCENA/FUTURA PRESS Zona sul. Ato lembrou ontem vítimas da violência na capital

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