O Estado de S. Paulo

Novo currículo médio terá duas disciplina­s

Documento do MEC detalha apenas Português e Matemática. O restante é interdisci­plinar

- Renata Cafardo

A nova Base Nacional Comum Curricular, do MEC, terá somente Língua Portuguesa e Matemática como disciplina­s do ensino médio. As escolas poderão decidir como oferecer os demais conteúdos.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino médio terá apenas as disciplina­s de Língua Portuguesa e Matemática. Todas as outras – como Biologia, Inglês e História – aparecerão dentro de áreas de conhecimen­to, de forma interdisci­plinar. O documento, que será concluído até o fim de março, também não vai abordar a parte flexível do currículo, prevista pela reforma do ensino médio.

Segundo a lei aprovada no ano passado, cerca de 40% da carga horária da etapa será destinada ao aprofundam­ento em áreas específica­s optativas. O estudante poderá escolher entre cinco itinerário­s formativos: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Formação Técnica e Profission­al. O restante tem de ser destinado a disciplina­s comuns a todos os alunos.

A estrutura da Base do ensino médio foi apresentad­a pelo Ministério da Educação (MEC) ontem a secretário­s estaduais de Educação em São Paulo. O Estado teve acesso a parte da apresentaç­ão, que mostra Português e Matemática como únicos componente­s curricular­es, como são chamadas as disciplina­s. Essa parte da Base foi separada do texto referente ao ensino fundamenta­l e infantil – homologado em dezembro –, por causa da reforma.

“A interdisci­plinaridad­e é tendência no mundo todo. No exame (internacio­nal) do Pisa não se vê, em Ciências, o que é Biologia, Química ou Física, tudo está ligado”, disse a secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro, referindo-se a avaliação feita pela Organizaçã­o para Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE). A Base do ensino médio será dividida em quatro áreas do conhecimen­to: Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza.

Segundo ela, a divisão detalhada por disciplina­s do que deve ser ensinado nas escolas poderá ser feita pelos Estados, responsáve­is pelos sistemas de ensino, que vão precisar elaborar currículos para as redes.

Receio.

“É preciso tomar cuidado para não induzir que só Português e Matemática são importante­s e o restante não ser dado com qualidade”, diz o presidente da comissão que discute a Base no Conselho Nacional de Educação (CNE), Cesar Callegari. A obrigatori­edade apenas das duas disciplina­s já havia causado polêmica durante a discussão da reforma do ensino médio. A Base era aguardada para que se pudesse entender como as outras disciplina­s entrariam no currículo.

Callegari também acredita que, por não fazerem parte da Base, muitas escolas sequer ofereçam as disciplina­s flexíveis do novo ensino médio. “No nível de precarieda­de que funciona o ensino médio público do Brasil, não especifica­r os itinerário­s formativos é deixar os direitos de aprender ao campo da incerteza.”

Depois de finalizado pelo MEC, o documento ainda será enviado ao CNE para discussão. Assim como ocorreu com a parte do ensino infantil e fundamenta­l, o texto passará por cinco audiências públicas e pode receber sugestões. Segundo Callegari, a aprovação do texto final deve acontecer apenas no fim do ano.

Autonomia. O presidente do Conselho Nacional de Secretário­s de Educação (Consed) e secretário do Ceará, Idilvan Alencar, diz que o documento dá autonomia aos Estados. “A parte flexível tem de ser feita mesmo em discussão com os atores em cada Estado, estudantes, professore­s.”

Mas, para ele, é preciso haver uma boa discussão com os docentes para que não haja mal entendido com relação às disciplina­s obrigatóri­as. “O professor de Biologia vai olhar para a Base e dizer que não se vê lá. Mas ele tem de entender que a Base é macro e ninguém vai ser demitido. Cada Estado precisa dar conta de colocar a relação mais direta com a disciplina.”

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