O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

Segundo investigaç­ão, valor é relativo a propina e caixa 2 e teve origem no superfatur­amento de obras da Arena Fonte Nova, em Salvador

- Julia Affonso

Se o STF arma o fim branco da Lava Jato, as operações da PF contra crimes de colarinho-branco vão de vento em popa.

O ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT) foi indiciado ontem pela Polícia Federal por suspeita de ter recebido R$ 82 milhões em propina e caixa 2 para campanhas eleitorais. Segundo a investigaç­ão, o dinheiro foi desviado das obras da Arena Fonte Nova, estádio construído em Salvador para a Copa do Mundo de 2014. Em nota, a PF disse que o inquérito aberto apura fraude a licitações, superfatur­amento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro.

Wagner, que governou o Estado entre 2007 e 2014, foi alvo, ontem, de mandado de busca e apreensão na Operação Cartão Vermelho. A investigaç­ão apura irregulari­dades na contrataçã­o dos serviços de demolição, reconstruç­ão e gestão do estádio. Em entrevista coletiva, o petista afirmou que nunca recebeu pagamentos indevidos em toda a sua vida pública (mais informaçõe­s nesta página).

De acordo com a PF, a licitação do estádio foi direcionad­a para beneficiar o consórcio Fonte Nova Participaç­ões (FNP), formado pelas empresas Odebrecht e OAS. “Verificamo­s que, de fato, o então governador recebeu uma boa parte do valor desviado do superfatur­amento para pagamento de campanha eleitoral e de propina”, afirmou a delegada.

A PF pediu a prisão preventiva do ex-governador, o que foi negado pelo Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1). Inicialmen­te, os investigad­ores queriam a condução coercitiva de Wagner, mas a medida está suspensa desde dezembro por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a delegada da Polícia Federal Luciana Matutino Caires, em 2009, o superfatur­amento das obras ultrapassa­va os R$ 200 milhões. O valor atualizado, afirmou, está em cerca de R$ 450 milhões. Os R$ 82 milhões que Wagner recebeu, segundo a PF, vieram desse superfatur­amento da obra.

Além de Wagner, foram alvo da operação o secretário da Casa Civil do Estado, Bruno Dauster, e um empresário próximo ao ex-governador. Ao todo, a Cartão Vermelho cumpriu sete mandados de busca e apreensão em Salvador. Houve buscas e apreensão no gabinete de Wagner, na Secretaria de Desenvolvi­mento Econômico do governo do Estado, pasta comandada pelo petista, e também em sua residência.

Na casa de Wagner, a PF apreendeu 15 “relógios de luxo”, mídias, computador­es e documentos. “É sabido que ele tem interesse em relógios. Hoje (ontem) foram apreendido­s 15 relógios de luxo. A gente ainda vai analisar o valor desses relógios, porque vai ser submetido à perícia técnica para calcular o valor”, afirmou a delegada.

Casa da mãe. Após deflagrar a operação, a PF afirmou que a Odebrecht entregou dinheiro na casa da mãe do ex-governador, no Rio. “A maioria das vezes em espécie”, disse a delegada. “Através de prepostos, não era o sr. Jaques Wagner que recebia de forma direta. A exceção foi feita na casa da mãe do sr. Jaques Wagner, no Rio de Janeiro”, declarou.

Segundo o superinten­dente Daniel Justo Madruga, da PF na Bahia, a entrega do dinheiro na casa da mãe do ex-governador ocorreu porque, segundo ele, doleiros em Salvador não tinham

capacidade de entregar a quantia desviada.

Ainda de acordo com a investigaç­ão da PF, os demais pagamentos direcionad­os ao ex-governador foram feitos por meio de intermediá­rios. “A maior parte através de doações de campanha. Isso conforme as delações e alguns outros elementos de prova que temos nos autos”, afirmou Madruga.

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