O Estado de S. Paulo

Militar vai assumir a Defesa pela 1ª vez

Temer anuncia general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna como substituto de Jungmann, confirmado na pasta da Segurança Pública

- Tânia Monteiro / BRASÍLIA / COLABORARA­M RICARDO GALHARDO e LUCIANO NAGEL, ESPECIAL PARA O ESTADO

O governo anunciou ontem o general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna como novo ministro da Defesa. Ele substituir­á Raul Jungmann, deslocado para o recém-criado Ministério Extraordin­ário da Segurança Pública. Com a nomeação de Silva e Luna, o presidente Michel Temer quebrou uma tradição desde a criação da pasta, em 1999, colocando pela primeira vez um militar no comando da Defesa. A escolha de Jungmann e de Silva e Luna foi antecipada pela Coluna do Estadão.

Apesar de o porta-voz do Palácio do Planalto, Alexandre Parola, ter anunciado que o general do Exército assume o cargo interiname­nte, o Estado apurou que a intenção do presidente é mantê-lo no posto até o fim do seu mandato.

A escolha de Silva e Luna foi defendida pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucio­nal (GSI), general Sérgio Etchegoyen. Ele já era uma espécie de “braço direito” de Jungmann, como secretário-geral do Ministério da Defesa.

“O nome disso é continuida­de. Decidiu-se pela continuida­de e por quem tem proximidad­e com o ministro da Segurança Pública para alinhar os esforços, facilitand­o todas as ligações e contatos para as ações de segurança que vão continuar acontecend­o daqui para a frente. Só isso”, disse o ministro do GSI ao Estado.

Etchegoyen admitiu que a escolha de um militar para o comanda da Defesa pode ser alvo de críticas, mas, segundo ele, houve um “consenso” das demais Forças em relação à escolha de Silva e Luna. “O problema que tem hoje é que todo mundo é candidato a alguma coisa e, neste cenário, valeu mais a continuida­de”, afirmou o ministro do GSI.

Além do bom trânsito nas Forças Armadas, contou a favor de Silva e Luna a experiênci­a na pasta e o fato de ser um general da reserva. A maioria dos oficiais-generais consultado­s pela reportagem afirmou considerar a decisão como “uma necessidad­e transitóri­a e temporária”.

Ontem, durante evento em Porto Alegre, Etchegoyen declarou que a escolha de Silva e Luna não causa “desconfort­o” na Marinha e à Aeronáutic­a. “Eu acho que a gente deve subir um pouquinho este debate para um nível mais adequado, porque tudo tem uma razão para colocar a responsabi­lidade ou a culpa nas Forças Armadas. Qual é o problema das Forças Armadas? É ter prestígio? Seria esse o problema? Honestamen­te, não vejo isso porque os militares são disciplina­dos”, disse.

Na Marinha e na Aeronáutic­a, no entanto, há ressalvas à situação. A avaliação de alguns oficiais é de que o ideal seria tanto o cargo de ministro da Defesa quanto o de secretário­geral serem ocupados exclusivam­ente por civis. Estes mesmos oficiais lembraram que a escolha traz de volta a discussão que existia no antigo Estado-Maior das Forças Armadas, órgão que precedeu o Ministério da Defesa, em que integrante­s do Exército tiveram protagonis­mo em relação a representa­ntes das outras forças.

Segurança Pública. O governo anunciou ontem que criará o Ministério da Segurança Pública por meio de medida provisória. Tanto o texto da MP como a escolha de Silva e Luna para a Defesa foram fechados em reunião na noite de domingo, no Palácio do Jaburu, entre Temer e quatro ministros. Na semana passada, o presidente chegou a estudar criar a pasta via decreto, o que, segundo fontes do Planalto, evitaria a necessidad­e de apoio do Congresso.

O presidente convocou para quinta-feira, às 11h, no Planalto, uma reunião com governador­es para falar sobre combate à violência já com Jungmann como titular da recém-criada pasta. Foram convidados todos os governador­es do País. Além de Jungmann, vão participar do encontro os ministros Torquato Jardim (Justiça), Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidênci­a), Etchegoyen, Silva e Luna, líderes no Congresso e os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE).

Para viabilizar o funcioname­nto do novo ministério, o governo vai criar pelo menos nove cargos de assessoria, além de fazer o remanejame­nto de servidores da Justiça para a pasta. O Ministério da Segurança Pública abrigará Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen) e Secretaria de Segurança Pública (inclui a Força Nacional).

 ?? FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL – 21/2/2018 ?? Troca. Jungmann (à esq.) e Silva e Luna durante evento em Brasília na semana passada; ministro assume Segurança Pública e general vai para Defesa
FABIO RODRIGUES POZZEBOM/AGÊNCIA BRASIL – 21/2/2018 Troca. Jungmann (à esq.) e Silva e Luna durante evento em Brasília na semana passada; ministro assume Segurança Pública e general vai para Defesa

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