O Estado de S. Paulo

Chineses se unem à nova era dos homens fortes

- / TRADUÇÃO DE CLÁUDIA BOZZO É JORNALISTA

Houve uma época na qual um líder chinês que se estabelece­sse como governante para toda a vida teria causado condenação internacio­nal por rejeitar a tendência global por mais democracia. Agora, tal ação parece estar totalmente em consonânci­a com os avanços de muitos países na outra direção.

A divulgação, no domingo, de que o Partido Comunista acabaria com o limite dos mandatos presidenci­ais – permitindo que o presidente Xi Jinping lidere a China indefinida­mente – foi o sinal mais recente da inclinação do mundo para o autoritari­smo. A lista inclui Vladimir Putin, da Rússia, Abdel Fattah al-Sissi, do Egito, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia. O autoritari­smo também reapareceu em lugares como Hungria e Polônia, que há quase 25 anos se libertaram da opressão soviética.

Há muitas razões para tais movimentos da parte de Xi – incluindo a proteção de seu poder e privilégio­s, terrorismo e guerra, amplificad­os por novas tecnologia­s –, mas um dos motivos mais significat­ivos é que poucos países têm a autoridade para falar abertament­e sobre isso. “Ou seja, quem o punirá internacio­nalmente agora?”, indagou Susan Shirk, especialis­ta em China da Universida­de da Califórnia.

Ela e outros especialis­tas descrevem tal “reversão autoritári­a” como um contágio global que minou a fé de forjar democracia­s liberais e economias de mercado como o caminho mais seguro para a prosperida­de e a igualdade. Quase ninguém teria descrito a China como genuinamen­te democrátic­a. Mesmo assim, a jogada de Xi encerrou um período de liderança coletiva e com mandato limitado, iniciado por Jiang Zemin, que ocupou o mesmo cargo, de 1993 a 2003, que muitos acreditava­m que levaria a China para o domínio da lei e abertura.

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