O Estado de S. Paulo

Em 7 meses, Rio tem 17 operações e poucos resultados

Nenhum grande bandido foi preso nem houve apreensão significat­iva de armas ou drogas em iniciativa­s com apoio das Forças Armadas

- Fábio Grellet / RIO

Desde que o atual regime de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi instituído no Estado do Rio, em 28 de julho de 2017, as Forças Armadas participar­am de pelo menos 17 operações de cerco a comunidade­s e caça a bandidos. Para especialis­tas, o conjunto de resultados dessas ações até agora, porém, é modesto ou até questionáv­el. Nenhum grande chefe criminoso foi preso nem houve apreensão de quantidade significat­iva de armas ou drogas.

A GLO em vigor desde o ano passado é diferente da intervençã­o federal na segurança, decretada pelo presidente Michel Temer após o carnaval. Seus resultados pouco vistosos, sobretudo nas apreensões de armamento mais pesado e desarticul­ação de bandos criminosos, porém, levantam dúvidas sobre a eficácia da iniciativa do Palácio do Planalto, sob comando do general Walter Braga Netto.

O Estado fez o levantamen­to sobre as operações com base nos informes divulgados pelas secretaria­s estaduais de Segurança e de Administra­ção Penitenciá­ria. Elas são responsáve­is pelos agentes que dividiram com as Forças Armadas as funções durante todas as iniciativa­s. Consultado, o Comando Militar do Leste (CML) não informou mais operações.

A primeira delas, chamada Onerat, foi realizada em 5 de agosto, oito dias após a decretação da GLO, e mobilizou o maior número de agentes. Foram 3.600 militares, que ocuparam favelas na região de Lins de Vasconcelo­s e Camarista Méier, na zona norte. Dois suspeitos morreram baleados e 23 pessoas foram presas. Foram apreendido­s 21 carros, 3 pistolas e 2 granadas. Já a terceira operação, realizada em 21 de agosto em favelas da zona norte do Rio, foi a que levou ao maior número de presos: 43.

A maior iniciativa em extensão territoria­l, segundo a secretaria de Segurança, ocorreu na terça-feira, em rodovias federais, no Arco Metropolit­ano e em trechos das Favelas do Salgueiro e Jardim Catarina, em São Gonçalo (região metropolit­ana ), Chapadão, Pedreira, Kelson’s, Cidade Alta, Pica-Pau, Cinco Bocas e Tinta, na zona norte da capital. Foram presas 11 pessoas e apreendida­s 5 pistolas e 1 revólver, 2 simulacros de pistola, 6 granadas.

Debate. Para o sociólogo Ignacio Cano, professor da Universida­de do Estado do Rio (Uerj), “a melhor avaliação desse tipo de operação foi feita pelo general Villas Bôas (comandante do Exército) em junho”. O militar disse que era inócua e cara. “Ninguém melhor do que ele para fazer essa análise.”

Para Cano, é preciso ter mais informaçõe­s sobre as operações de GLO. “Para um resultado significat­ivo, com prisão de

criminosos importante­s ou apreensão de quantidade significat­iva de produtos, é preciso investigar, e não é isso que as Forças Armadas fazem.”

Paulo Storani, mestre em Antropolog­ia e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM do Rio, avalia que as limitações impostas pela lei contribuem para que os resultados sejam menos significat­ivos. “Para chegar a uma pessoa ou a um esconderij­o é preciso a ajuda

de algum morador, e basta o criminoso trocar de endereço que a polícia não pode entrar.”

O coronel Roberto Itamar, porta-voz do CML, porém, afirma que a participaç­ão das Forças Armadas nessas operações tem sido um sucesso. “Cumprimos o que foi solicitado, sempre. A presença dos militares inibe os criminosos e permitiu que serviços de eletricida­de, dos Correios e de coleta de lixo voltassem a ser prestados.”

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