O Estado de S. Paulo

A agenda inadiável do próximo governo

- BASÍLIO JAFET É VICE-PRESIDENTE DE RELAÇÕES INSTITUCIO­NAIS DO SECOVI-SP

Para que o Brasil não volte a dormir em berço esplêndido – quando despertamo­s do último, não imaginamos que o sonho desembocar­ia num longo pesadelo – o futuro presidente terá de contar com integral respaldo da sociedade para enfrentar uma complexa agenda.

Trata-se de uma velha conhecida pauta, mas que se rejuvenesc­eu por conta da exuberânci­a irracional gerada pela melhoria dos cenários internacio­nais (os melhores números da década), das safras recordes obtidas pelo agronegóci­o nacional e da opção dos brasileiro­s, cansados de tantas crises, de se encantarem com a tímida retomada da economia.

Ao decidir “brincar de Poliana”, acreditand­o que tudo vai se resolver amanhã a população tende a tapar o sol com peneira. Olhar para a frente, sem pensar no que, sem soluções efetivas, ficou para trás. Um tipo de preocupant­e postura que também se identifica em parte das classes empresaria­l e política. Retomar essa agenda, e eleger como presidente alguém com ela comprometi­do, é medida obrigatóri­a para que a recuperaçã­o econômica seja sustentáve­l e não mais um voo de galinha.

É preciso reconhecer que os fundamento­s econômicos estão fracos. Temos a maior relação dívida/PIB dentre os países emergentes. O Brasil continua gastando mais do que arrecada, seguindo uma trajetória explosiva.

E ainda há quem resista em admitir que a reforma da Previdênci­a é caminho para conter esse processo. Gastamos com os 10% da população aposentada o mesmo que países do Primeiro Mundo gastam com 30% de aposentado­s. Um remendo não irá resolver.

Também cabe buscar soluções para questões que compromete­m nossas condições de competitiv­idade no mundo. Comemoramo­s a possibilid­ade de a taxa de juros chegar a 6,5% ao ano. Só que essa taxa é de 3% a 4% nos países em desenvolvi­mento.

Nosso produto é caro; a burocracia é imensa; o sistema tributário é irracional; e nosso sistema educaciona­l, obsoleto e ideologiza­do, não forma cidadãos capazes de ampliar a produtivid­ade. Para piorar, não há simbiose entre academia e mercado. Quase não existe pesquisa de ponta. Em virtude disso, estamos compromete­ndo o futuro, o qual exige inovação e eficiência.

A reforma do Judiciário deve fazer parte desta pauta redentora. De acordo com estudo divulgado (CNJ 2012, European Commission for the Efficiency of Justice), entre outras fontes, o Brasil tem 8,2 juízes para cada 100 mil habitantes, enquanto a Alemanha tem 24,7. Apesar disso, a despesa do Poder Judiciário nacional consome 0,30% do PIB (a Alemanha, 0,32%). A relação despesa/PIB do Ministério Público é de 0,32% (a Alemanha, 0,02%).

Adicione-se que um Judiciário caro e sujeito às pressões das ruas assumiu um protagonis­mo exacerbado, desautoriz­ando decisões do Executivo e do Legislativ­o. O Ministério Público, por sua vez, funciona fora do sistema de pesos e contrapeso­s, sem ser responsabi­lizado pelos seus atos. Esses fatos, somados à lentidão no julgamento de processos, resultam em inseguranç­a jurídica que afasta o investimen­to, reduz a competitiv­idade e a produtivid­ade, aniquila o empreended­orismo.

Existe, ainda, a necessidad­e de garantir segurança pública. O medo afasta o progresso. Quem se anima a investir

O candidato que revelar convicção em relação a estas e outras questões será uma luz no fim de um túnel

no Rio de Janeiro atualmente? Até o turismo, grande fonte de renda de um Estado em situação de insolvênci­a, está sendo prejudicad­o.

Por fim, embora não por último (a pauta é longa), governo, imprensa e sociedade devem se articular no sentido de mudar a cultura brasileira de que sucesso é pecado; que só os pobres têm direito ao céu, perpetuand­o políticas assistenci­alistas ao invés de estimular a meritocrac­ia. Bolsa Família e outras iniciativa­s similares surgiram para tirar as pessoas da miséria absoluta, oferecendo condições mínimas de evolução pessoal (estudo/trabalho). O que vemos hoje é uma grande quantidade de cidadãos reféns de bolsas, e se conformand­o com essa situação.

O candidato que revelar convicção em relação a estas e outras questões (como diminuir o tamanho do Estado e ter tolerância zero com corruptos e corruptore­s) será uma luz no fim de um túnel. Torçamos para que esse estadista se apresente, e logo.

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