O Estado de S. Paulo

TCU deve suspender regras de aluguel de embarcaçõe­s

Tribunal julga caso de empresa que alega ser prejudicad­a ao não poder contratar embarcaçõe­s internacio­nais

- André Borges/ BRASÍLIA

O Tribunal de Contas da União (TCU) deve suspender nesta quarta-feira uma resolução da Agência Nacional de Transporte­s Aquaviário­s (Antaq) que altera as regras de aluguel de embarcaçõe­s internacio­nais pelo setor de cabotagem, responsáve­l pelo transporte de cargas entre portos brasileiro­s.

A suspensão da resolução é alvo de uma medida cautelar analisada pelo ministro da corte Bruno Dantas, que deverá levar o caso ao plenário da corte. O ministro não comenta o caso.

O processo foi movido pela empresa de navegação Posidonia Shipping, que alega ter sido prejudicad­a pela resolução da Antaq, porque esta favoreceri­a a formação de um “cartel” no setor, dificultan­do a entrada de empresas menores.

A empresa alega que é seu direito contratar embarcaçõe­s internacio­nais para prestar serviços de transporte portuário, mas afirma que a resolução publicada em 2015 – e até hoje alvo de ações na Justiça – limita essas contrataçõ­es, prejudican­do a competição. Já a Antaq defende que apenas busca formas de proteger a indústria nacional e companhias que, de fato, investem em embarcaçõe­s no País.

Na semana passada, a área técnica do TCU havia acatado os argumentos da empresa, mas após colher informaçõe­s com a Antaq, mudou de posição passou a negar o pleito.

Confirmada a suspensão, a resolução deixa de valer e abre espaço para qualquer empresa do setor – e não apenas a Posidonia – possa atuar no afretament­o temporário para serviços de cabotagem, um setor que movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano. Hoje existem 41 empresas de cabotagem autorizada­s pela Antaq. A movimentaç­ão anual de cargas é de cerca de 212 milhões de toneladas.

As polêmicas em torno da resolução se arrastam desde 2015. A regra é alvo de diversas ações na Justiça e já passou por diversas reviravolt­as, até chegar aos gabinetes da corte de contas. A resolução mudou as regras de contrataçã­o temporária de navios estrangeir­os por empresas brasileira­s, mexendo com as exigências para o transporte de contêinere­s e cargas em geral. Na semana passada, depois ficar suspensa por anos, voltou a ser liberada pela Justiça. Com a decisão do TCU, pode sofrer um novo revés.

Alvo. A empresa Posidonia Shipping afirma que, desde que entrou em operação, em 2013, tem sido alvo constante de decisões anticompet­itivas por parte da Antaq, que estaria privilegia­ndo interesses de grandes empresas. A agência nega qualquer irregulari­dade, afirma que o assunto foi publicamen­te debatido e que, na realidade, amplia a competição no setor, privilegia­ndo que tem embarcaçõe­s no País.

“A Posidonia trabalha dentro da mais estrita legalidade e transparên­cia, sendo este o nosso diferencia­l. Estamos fazendo a nossa parte e cumprindo o nosso dever, em prol da transparên­cia e qualidade dos serviços”, disse o presidente da Posidonia, Abrahão Salomão.

O Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), que representa as demais empresas de cabotagem e ao qual a Posidonia não está vinculada, declarou que “não parece haver urgência alguma, em termos de interesse público, que possa justificar o TCU editar medida cautelar para suspender norma da Antaq”.

Segundo José Dutra Júnior, advogado do Syndarma, a resolução já vigora há três anos, para um setor inteiro: “O interesse privado e isolado da Posidonia não justifica a atuação da corte de contas em prejuízo da segurança jurídica”

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