O Estado de S. Paulo

Disputa aberta

Abilio abre caminho para novo conselho da BRF

- Fernando Scheller Renata Agostini Mônica Scaramuzzo

Em disputa aberta com Abilio Diniz e o atual conselho de administra­ção da BRF, presidido pelo empresário, os fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ) e da Petrobrás (Petros) seguem empenhados em montar nova chapa para o conselho e captar novos apoios para a destituiçã­o do atual colegiado. Do lado dos fundos, estão acionistas com cerca de 40% de participaç­ão na BRF, apurou o ‘Estado’ com seis fontes a par das tratativas. Ontem, o empresário divulgou carta criticando a postura hostil dos fundos, mas convocou reunião para segunda-feira para permitir chamada de assembleia para eleição de um novo conselho.

Para conseguir tirar Abilio da presidênci­a do conselho da empresa, dona das marcas Sadia e Perdigão, e mudar o colegiado, os fundos das duas estatais precisarão de mais da metade dos votos na assembleia geral extraordin­ária, que deverá ocorrer em abril.

Juntos, os dois fundos têm 22% da BRF. Mas já ganharam apoio do fundo americano Aberdeen, das gestoras cariocas JBI e JGP, e de integrante­s da família fundadora da Sadia, segundo fontes.

Um investidor relevante, que tem cerca de 3% da empresa, disse ao Estado que apoiará os fundos, mas pediu para não ter o nome revelado. Essa fonte classifico­u a posição do empresário à frente do colegiado como insustentá­vel.

No meio desse turbilhão, a BRF anunciou ontem a renúncia do seu vice-presidente de operações globais, Hélio Rubens Mendes dos Santos Junior, ao cargo. A companhia não explicitou os motivos para a saída do executivo.

Trajetória. Embora tenha uma fatia menor que a dos fundos, Abilio dá as cartas na BRF desde 2013, quando foi trazido para o negócio pelo fundo brasileiro Tarpon. No fim do ano passado, já com os resultados no terreno negativo, um nome ligado ao empresário – José Aurélio Drummond Júnior – foi escolhido como presidente executivo da BRF, em substituiç­ão a Pedro Faria, da Tarpon.

Especialis­ta em gestão corporativ­a, Herbert Steinberg, da Mesa Corporate, afirma que essa posição hostil de Petros e Previ não é típica dos fundos de pensão, mesmo em negócios que vêm dando prejuízo, como a BRF, que perdeu quase R$ 1,5 bilhão entre 2016 e 2017, após anos seguidos de lucros.

“Na vida corporativ­a, aprendi que não é o resultado do balanço que leva a uma ruptura como essa, e sim uma questão comportame­ntal”, disse Steinberg ao Estado. “Se estivessem sendo bem tratados, os fundos provavelme­nte não tomariam esse caminho.”

Comunicado. Pressionad­o pelo envio de carta no sábado por Previ e Petros, Abilio convocou para a próxima segunda-feira uma reunião para deliberar sobre o pedido dos fundos. Caso o colegiado, que hoje tem nove integrante­s, vote contra a instauraçã­o da assembleia, os fundos poderão convocá-la em seguida à revelia do conselho.

Dono de 4% da BRF via Península Participaç­ões, veículo de investimen­tos de sua família, Abilio divulgou ontem comunicado sinalizand­o contraried­ade com o movimento dos dois sócios. Nele, o empresário afirmou que compartilh­a da insatisfaç­ão com os resultados da BRF, mas discorda da “forma e do momento em que estão se manifestan­do”.

No documento, Abilio afirma que não “houve espaço para o diálogo tampouco a preocupaçã­o com os interesses da BRF e a responsabi­lidade de seus dirigentes”, já que a notícia sobre a intenção dos fundos de pensão surgiu na imprensa na semana passada e somente depois a empresa foi comunicada oficialmen­te.

Responsabi­lidade. O empresário alfinetou os dois sócios no comunicado, ao lembrá-los que eles referendar­am, via conselho, as decisões tomadas. “Todo acionista que teve assento no conselho de administra­ção é responsáve­l pelos rumos da empresa, pois todas as decisões nesses últimos quase cinco anos foram tomadas de forma unânime pelo colegiado, com raríssimas exceções”.

Previ e Petros são acionistas da BRF desde sua criação, em 2009 e têm um representa­nte cada um no colegiado, que é formado por nove membros, sendo cinco independen­tes. Procurados, os fundos não se pronunciar­am sobre as negociaçõe­s para a nova chapa.

A JGP informou que mantém diálogos com as fundações, “uma vez que o diagnóstic­o atual para a condução da empresa não é a melhor”.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO - 4/12/2017 Contrariad­o. O empresário Abilio Diniz criticou postura hostil dos fundos de pensão

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